seg. dez 29th, 2025

Itália avança contra o câncer, mas desigualdades ainda marcam o Sul do país


A Itália tem uma boa notícia para contar quando o assunto é câncer. Em dez anos, o número de mortes caiu 9%, um resultado que coloca o país entre os mais avançados da Europa no combate às doenças oncológicas. Tumores historicamente considerados grandes vilões, como o câncer de pulmão e o de cólon e reto, hoje matam menos do que há uma década. A ciência, a prevenção e diagnósticos mais precoces estão funcionando. Mas, por trás desse progresso, ainda existe um mapa desigual de acesso à saúde.

Os dados mais recentes mostram que, entre 2014 e 2024, as mortes por câncer de pulmão diminuíram 24% e as por câncer colorretal caíram 13%. Ao mesmo tempo, o número de novos diagnósticos permanece estável, em torno de 390 mil casos por ano. Isso significa que mais pessoas estão vivendo mais tempo após a doença, especialmente nos tumores mais frequentes, como o de mama, cólon e pulmão, cuja taxa de sobrevivência em cinco anos continua aumentando.

Uma das chaves dessa virada está na prevenção. Nos últimos anos, a adesão aos programas de rastreamento cresceu em todo o país e, de forma ainda mais significativa, no Sul da Itália. Entre 2020 e 2024, a participação em exames como mamografia, testes para câncer colorretal e rastreamento do colo do útero chegou a triplicar em algumas regiões meridionais. Um sinal claro de que a informação e o acesso estão começando a chegar mais longe.

Mas o retrato não é totalmente positivo. Quando o diagnóstico vira tratamento, muitas mulheres do Sul ainda precisam viajar centenas de quilômetros para operar. Cerca de 15% das pacientes com câncer de mama fazem a cirurgia fora da própria região. Na Calábria, esse número chega a quase 50%. Basilicata e Molise apresentam índices semelhantes. Na prática, isso significa que milhares de mulheres deixam suas cidades, suas famílias e suas redes de apoio em busca de centros considerados mais preparados.

No Norte e no Centro do país, essa “fuga sanitária” é muito menor. Regiões como Lombardia, Friuli-Venezia Giulia e Lazio registram taxas de deslocamento inferiores a 5%. A diferença revela não apenas desigualdades na oferta de serviços especializados, mas também uma relação direta com a menor cobertura de rastreamento no Sul.

O avanço da Itália contra o câncer, portanto, é real e consistente. Menos mortes, mais sobrevivência e maior adesão à prevenção mostram um sistema de saúde que funciona. Ao mesmo tempo, os números lembram que vencer a doença não é apenas uma questão médica, mas também territorial e social. Garantir que o cuidado de qualidade chegue a todos, sem a necessidade de longas viagens, é o próximo grande desafio.

Compartilhar:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *