O Circolo Italiano recebeu, no último dia 8, o segundo encontro do projeto “Encontro entre Migrações”, promovido pela Comissão de Assistência do Comites de São Paulo.
Mais do que um evento, foi uma travessia emocional. De um lado, representantes da antiga emigração italiana, homens e mulheres que chegaram ao Brasil nas décadas de 1950 e 1960, ou descendentes diretos dos que desembarcaram no Porto de Santos com uma mala e muitos sonhos. Do outro, jovens ítalo-brasileiros, conectados ao mundo digital e a uma Itália idealizada, de onde buscam resgatar raízes, dupla cidadania e sentido de pertencimento.
O Cônsul Geral da Itália em São Paulo, Domenico Fornara participou do evento e compartilhou conosco a importância e o papel fundamental do Consulado neste evento “O retorno é indispensável para compreender bem quais são as necessidades da comunidade italiana aqui em São Paulo e naturalmente em todo Brasil”.
Para Maurizio Matrone, conselheiro do Comites e coordenador da comissão de assistência e responsável por um dos patronatos de São Paulo o objetivo desse encontro é fazer uma interação entre a nova e a velha imigração para contar e trocar experiências.
Um diálogo entre tempos e trajetórias
Com o tema “Emigração tradicional e nova mobilidade”, o encontro propôs uma conversa entre gerações para compreender como o fenômeno migratório italiano evoluiu ao longo do tempo, do êxodo por necessidade à mobilidade por escolha.
O debate foi guiado por um questionário elaborado pela Comissão de Assistência, em parceria com a Comissão de Jovens e com a Accademia Italiana Pellegrini de Campinas, reconhecida instituição voltada ao ensino da língua e cultura italiana. A proposta: recolher percepções sobre o que significa migrar, pertencer e manter vínculos com a Itália em contextos tão distintos.
Raízes que se reinventam
Entre os relatos coletados, emergem histórias de resistência, saudade e reconstrução. Para os imigrantes da “velha guarda”, a Itália é lembrança viva de uma terra deixada para trás em busca de oportunidades.
Já os jovens ítalo-descendentes enxergam a Itália como destino simbólico e afetivo, muitas vezes redescoberto por meio da dupla cidadania, de intercâmbios acadêmicos ou experiências profissionais na Europa. A mobilidade, antes marcada pela necessidade, agora se expressa como um movimento de identidade e curiosidade cultural.
O peso e o encanto do cenário
A escolha do Circolo Italiano, instalado no histórico Edifício Itália, não poderia ser mais simbólica. O local, fundado em 1911, é um dos últimos bastiões da comunidade italiana em São Paulo, um espaço que, há mais de um século, celebra a cultura e mantém vivas as tradições trazidas do outro lado do Atlântico.
Ali, entre bandeiras, retratos e o aroma de café expresso, o encontro se transformou em uma metáfora viva: o passado e o presente da italianidade se reconheceram. A mesa-redonda, as conversas informais e os testemunhos pessoais revelaram que a identidade ítalo-brasileira não é algo estático, é uma herança em movimento, constantemente reinterpretada.
Para o diretora do Circolo, Daniela Policela que comentou sobre a importância de trazer a nova geração para entrar em contato com a velha geração “o Círcolo é uma inspiração para a velha geração e agora se torna uma incubadora das novas gerações”.
Um projeto em construção
O “Encontro entre Migrações” foi lançado em 2023 com a proposta de documentar e compreender as diferentes fases da experiência migratória italiana no Brasil. O primeiro encontro, realizado no ano passado, reuniu imigrantes assistidos por patronatos e jovens descendentes em um diálogo inicial sobre memória e pertencimento.
Agora, nesta segunda edição, o foco voltou-se à comparação entre as emigrações de ontem e as mobilidades de hoje, ampliando a pesquisa com novas perspectivas e histórias.
O material riquíssimo, que une o conhecimento coletado neste encontro ao do ano anterior, será transformado em uma publicação oficial. Este documento promete ser um estudo inédito sobre a psique do migrante italiano e ítalo-brasileiro.
A obra não só prestará uma homenagem à história, mas também fornecerá um panorama para entender a “nova diáspora”, marcada pela busca por reconhecimento de cidadania e oportunidades na União Europeia. O livro será apresentado no terceiro e último encontro do projeto, previsto para o próximo ano, encerrando este ciclo de reflexão e memória.

