As chamas que desde a última quinta‑feira (7) atingem a encosta sul do Parque Nacional do Vesúvio transformaram uma emergência local em uma mobilização nacional. Em pouco mais de dois dias, o combate teve escalada de meios e profissionais, com braços aéreos e terrestres trabalhando de dia e de noite para conter frentes que, por momentos, correram em direção a áreas urbanas e infraestruturas sensíveis.
O drama começou na última quinta-feira, quando o primeiro foco foi detectado próximo ao município de Terzigno, no lado sudeste do vulcão. Apesar dos esforços iniciais, o fogo, alimentado por uma onda de calor com temperaturas acima de 40°C e ventos fortes, se espalhou rapidamente. Segundo a prefeitura de Nápoles, o incêndio avança em três frentes distintas, o que dificulta o trabalho das equipes em terra.
Na noite entre domingo (10) e segunda-feira (11), a situação se agravou. As chamas se expandiram em direção a Torre del Greco, atingindo o ponto mais ocidental até o momento. A fumaça densa e escura se tornou visível a quilômetros de distância.
A resposta teve caráter inter-regional, equipes terrestres organizadas pelo Corpo Nacional de Bombeiros operam em turnos contínuos; unidades provinciais de Salerno e Caserta reforçam o dispositivo. As autoridades de proteção civil central e regional coordenam o emprego dos meios e as prioridades de contenção.
O combate ao incêndio se transformou em uma operação de emergência nacional. Um total de 80 bombeiros, com reforços de Emília-Romagna, Toscana, Marcas, Salerno e Caserta, estão no local. Pelo ar, quatro aeronaves Canadair CL-415 da frota nacional de combate a incêndios operam desde o amanhecer, com apoio de drones que mapeiam a área para orientar as equipes. O Exército italiano também foi mobilizado para criar “aceiros” e tentar conter o avanço das chamas.
Na linha da solidariedade institucional, a Região Friuli Venezia Giulia enviou uma coluna mobile com quatro equipes AIB (14 voluntários e 2 funcionários), três pick‑ups equipados, um caminhão‑tanque de 5.000 litros, uma van logística e um veículo off‑road — operação autorizada por decreto e orçada em cerca de €100.000 para cobrir custos operacionais e logísticos. As equipes do Friuli atuarão em coordenação com autoridades locais durante toda a emergência.
Fontes oficiais e reportagens locais indicam que o fogo atingiu trechos do Monte Somma em altitudes que alcançaram cerca de 1.050 metros, afetando pinetas, corpos de vegetação e áreas agrícolas (vinhedos e olivais). Em alguns pontos houve preocupação concreta com a proximidade a instalações como uma fábrica de fogos de artifício e agriturismos, o que levou à suspensão temporária de atividades do parque e a reforço de barreiras de contenção. Até o momento não foram registradas evacuações em massa, mas a situação permanece dinâmica e sujeita a reavaliações conforme o comportamento do vento e a evolução das chamas.
Especialistas e fontes locais citam três fatores principais que agravam o incêndio: 1) vegetação seca após semanas de calor; 2) ventos que favorecem saltos de fogo entre cotas; e 3) relevo íngreme do Vesúvio, que limita o acesso de veículos pesados a certos trechos, tornando imprescindível a coordenação entre ações aéreas e brigadas de superfície.
A prioridade das autoridades é conter as três frentes ativas, estabilizar trechos do Monte Somma e proteger aldeias e infraestruturas críticas. Para além do evidente dano ambiental — perda de habitats e potencial impacto sobre agricultura local —, existe preocupação sobre o efeito de incêndios recorrentes sobre o solo vulcânico, erosão e a paisagem que compõe o Parque Nacional do Vesúvio, patrimônio natural e turístico de grande valor. A atuação coordenada entre Corpo de Bombeiros, Proteção Civil, voluntários regionais e meios aéreos será determinante nas próximas 24–48 horas.
O Ministério Público de Nola já abriu um inquérito para apurar as causas do incêndio. Embora a origem ainda não tenha sido oficialmente confirmada, as autoridades locais e os voluntários levantam a forte suspeita de que a causa seja criminosa, um cenário que já se repetiu em outros incêndios na região.
O desastre tem um impacto devastador. Além da destruição de centenas de hectares de floresta, as trilhas do Parque Nacional foram fechadas por segurança, o que afeta o turismo em um dos locais mais visitados da Itália. A maior associação agrícola do país, a Coldiretti, descreveu o ocorrido como um “enorme desastre” para os vinhedos e fazendas da região, que produzem o famoso vinho Lacryma Christi.
Apesar da situação crítica, a prefeitura de Nápoles informa que as chamas estão longe de áreas residenciais, e o prefeito de Terzigno, Francesco Ranieri, comunicou um “leve avanço” no combate ao fogo, trazendo uma pequena esperança de que a situação possa estar marginalizada.