Existem noites em que a música não é apenas música. Noites em que uma igreja se enche de vozes, mas principalmente de possibilidades. Nesta sexta-feira, 19 de dezembro, na belíssima igreja de Ognissanti, Florença decide transformar uma noite de inverno em um gesto coletivo de coragem, dedicado às crianças que vivem a forma mais silenciosa de fragilidade: a pobreza educativa. E diante dessa ferida que quase não se vê, a cidade escolhe responder com a força quente da comunidade.
O concerto de Natal “O amanhã deles é agora”, promovido pela Associação Borgognissanti e pela Fundação Solidariedade Caritas ETS Florença, é mais que um evento musical: é um manifesto. Uma tomada de posição. Uma pergunta urgente lançada ao público: o que estamos dispostos a fazer para que uma criança possa imaginar o próprio futuro sem muros impossíveis de escalar? A resposta está nas mãos de quem idealizou o projeto e nas daqueles que estarão presentes.
Inserido no projeto homônimo, Caritas Diocesana e Borgognissanti trabalham para devolver direitos básicos que, para muitos pequenos, ainda não são garantidos: um material escolar completo, um curso esportivo, uma excursão, um apoio psicológico quando a vida pesa demais. Atualmente, 290 crianças são acompanhadas em 46 estruturas da Fundação Solidariedade Caritas ETS, cada uma com uma história que merece cuidado, escuta e oportunidade.
“Podemos derrubar esse limite silencioso”, lembram os responsáveis da Fundação. E as palavras deles já parecem uma espécie de prelúdio, preparando o terreno para a música.
E então chega o coração artístico da noite: o Light Gospel Choir de Florença, sob a direção da soprano Letizia Dei. Ao piano, Federico Pacini; na percussão, Marco Corsinotti. O repertório será um mergulho em spirituals e canções gospel afro-americanas, músicas que nascem da resistência e da esperança, carregando ritmo, fé e emoção. Talvez dessas vozes, tão poderosas e antigas, possa surgir um recado novo.
Enquanto as notas ecoarem pela nave de Ognissanti, Florença terá diante de si uma oportunidade rara: lembrar que solidariedade não é um gesto ocasional, mas uma responsabilidade coletiva. E que o futuro de uma criança não pode esperar. Não deve esperar.