No momento em que o mercado norte-americano se fecha com tarifas que ameaçam anos de crescimento, a esperança do Brasil começa a brilhar no horizonte das vinícolas italianas. A decisão dos Estados Unidos de manter a tarifa de 15% sobre os vinhos europeus caiu como um balde de água fria no setor: só a Itália pode perder até 317 milhões de euros (2 bilhões de reais) 12 meses, número que poderia saltar para 460 milhões (3 bilhões de reais) caso o dólar continue a se desvalorizar.
O impacto não é pequeno: os Eua representam cerca de um quarto das exportações de vinho italiano, algo em torno de 2 bilhões de euros por ano. Com esse pilar em risco, os olhos de muitos produtores – especialmente os pequenos, no sul da Itália – se voltam para um novo destino: o Brasil.
Apesar de ainda modesto nos números – apenas 206 milhões de euros em vinhos importados da União Europeia em 2024, equivalente a 1% das exportações totais do bloco – o mercado brasileiro é percebido como uma terra fértil. A chave para destravá-lo está em um acordo que há anos provoca debates: o UE-Mercosul.
Hoje, a tarifa brasileira de 27% e as pesadas formalidades de importação encarecem as garrafas europeias, deixando campo livre para vizinhos como Argentina e Chile. O acordo, se concluído, derrubaria barreiras e protegeria as Indicações Geográficas (IGs), selo que garante autenticidade e tradição, atributos cada vez mais valorizados pelo consumidor brasileiro.
O cenário interno brasileiro também inspira otimismo: uma população jovem, classe média em expansão e um interesse crescente por rótulos de qualidade fazem do Brasil uma promessa sedutora. Para quem produz vinhos em colinas da Toscana, nas vinhas do Piemonte ou nos vales ensolarados da Sicília, essa poderia ser a chance de contar uma nova história.
Se os Eua impõem obstáculos, o Brasil surge não apenas como mercado, mas como possibilidade de renovação. No copo das vinícolas italianas, entre incertezas e esperanças, é esse novo destino que começa a ser degustado.