Quer visitar o Coliseu de Roma, mas não tem como? Bom, saiba que, se conseguir se contentar com menos, existem pelo menos seis “Coliseus” no Brasil, inspirados no famoso Anfiteatro Flávio.
Se o Coliseu de Roma foi criado para impressionar imperadores e entreter multidões sedentas por espetáculo, aqui ele ganhou vida própria: às vezes como estádio municipal, às vezes como teatro, outras como ginásio quase esquecido no interior.
Do Ceará a Santa Catarina, cada versão é única: uma releitura brasileira de um ícone antigo, com arcos, abóbadas e, às vezes, um toque de improviso local. Alguns nasceram de projetos públicos, outros de iniciativas comunitárias ou de pura admiração pela arquitetura clássica. Outros parecem ter surgido simplesmente porque alguém achou que “ficaria bonito um Coliseu aqui”.
É claro que isso tem a ver também com a imigração italiana.
Como lembra, em reportagem do jornal O Globo, a professora Maria Rita Amoroso, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, o fenômeno vai além da estética. “A imigração traz diferentes culturas e formas de viver, mas também cria memórias afetivas e imateriais.
Foi o que aconteceu com o Coliseu, lembrado por sua imponência e símbolo de grandeza”, afirma. Segundo o IBGE, entre 1870 e 1920 os italianos representaram 42% dos imigrantes que chegaram ao Brasil. Hoje, cerca de 30 milhões de brasileiros são descendentes diretos, e parte dessa herança pode ser vista na paisagem construída.
Eis os “Coliseus” que ganharam vida à brasileira.
O primeiro é o Coliseu de Alto Santo. Erguido em meio ao sertão cearense, o estádio municipal de Alto Santo impressiona por sua fachada de arcos e abóbadas, inspirada diretamente no monumento romano. Levaram seis anos para concluir as obras, inauguradas em 2015. Por dentro, nada de gladiadores: o espaço abriga partidas de futebol para até cinco mil torcedores.
Em São Paulo os monumentos ‘inspirados’ ao colosso romano são três, a partir do Coliseu de Pedrinhas Paulista. Fundada em 1952 por imigrantes italianos, Pedrinhas Paulista se orgulha de ser um pequeno enclave da península. O monumento inaugurado em 2023 reproduz o Coliseu em escala reduzida, cercado por esculturas da Loba Capitolina e de gladiadores. O agricultor e guia turístico Luciano Tombolato, um dos primeiros moradores, diz que o local “ajuda a matar a saudade e a manter viva a lembrança da Itália”.
A seguir vem o Coliseu de Caçapava. No Vale do Paraíba, o ginásio conhecido como Coliseu foi construído pela Associação Atlética local. Com o tempo, perdeu manutenção e virou espaço de treino para escoteiros e grupos de resgate. Agora, há planos de restauração e parceria com a prefeitura para devolvê-lo à função esportiva.
O terceiro Coliseu é o de Santos. Inaugurado em 1897, o Teatro Coliseu é um marco da arquitetura e da vida cultural de Santos. Em reforma desde 2024, o edifício passará por modernização para receber novas produções. Sua fachada preserva elementos neoclássicos que remetem, em escala urbana, à monumentalidade romana.
Minas abriga um Coliseu em Ribeirão Vermelho. O ‘monumento’ aqui na verdade è uma rotunda ferroviária de 1895, usada para manutenção de locomotivas. Considerada a maior da América Latina, a estrutura circular impressiona todavia pelo volume e simetria. O prédio passa por restauração e será transformado em centro cultural.
Em Arroio Trinta, pequena cidade catarinense, um concurso estudantil deu origem a um auditório inspirado no anfiteatro de Roma. O projeto partiu de uma aluna do ensino médio e foi adotado pela Câmara de Vereadores. Hoje, Arroio Trinta se apresenta como “capital catarinense da cultura italiana”.
Juntos, esses “coliseus” formam uma espécie de mapa simbólico: um traço que liga o Mediterrâneo ao Atlântico por meio da memória e da arquitetura. Mais do que cópias, são adaptações brasileiras da ideia de que o espaço público pode ser monumental e, ao mesmo tempo, comunitário. Um diálogo silencioso entre a Roma antiga e o Brasil moderno.
Entre Roma e o sertão: os “Coliseus” brasileiros revelam a herança invisível da imigração italiana







