qui. set 11th, 2025

Do Mercosul para Vicenza: o destino sul-americano da indústria italiana de autopeças.

Quando se fala em “Made in Italy”, a primeira imagem que vem à cabeça de muitos ítalo-brasileiros é moda, design e gastronomia. Mas há um setor igualmente estratégico, e menos glamouroso, que conecta Brasil, América Latina e Itália: a indústria de autopeças.

Segundo dados divulgados pela Anfia (Associação Nacional da Indústria Automobilística Italiana), o ano de 2024 foi turbulento para o setor. As exportações totais da Itália caíram 3,1%, fechando em 24,6 bilhões de euros. E, no entanto, no meio desse cenário de retração, a América Latina aparece como uma das poucas regiões em que os italianos conseguiram crescer.

O Brasil se manteve entre os dez principais destinos das autopeças italianas, com 3,4% do total exportado. No ranking, aparece ao lado de mercados já consolidados, como Estados Unidos, Turquia e México.

Ainda mais interessante é olhar para o conjunto do Mercosul. Em 2024, o bloco recebeu 925 milhões de euros em componentes automotivos italianos, um crescimento de 6,7% em relação a 2023. Ou seja, enquanto mercados tradicionais como Alemanha, Estados Unidos e Japão recuaram, a América do Sul deu um fôlego inesperado para a indústria italiana.

Esse dado chama atenção porque mostra um espaço de aproximação estratégica entre Itália e Brasil. Em plena fase de incertezas no comércio global, com guerra de tarifas, desaceleração chinesa e a lenta transição verde na Europa – a América Latina se torna um parceiro confiável.

Enquanto isso, no restante do mundo o cenário foi bem menos positivo. As exportações italianas caíram 15,4% para os Estados Unidos, 10,5% para o Japão e quase 28% para a Coreia do Sul. Na própria Europa, o tombo também foi expressivo em países como Áustria, Bélgica e Espanha.

Isso explica por que o crescimento, ainda que modesto, no Mercosul ganhou tanto peso nas análises da Anfia: em um oceano de quedas, qualquer onda positiva faz diferença.

O presidente do Grupo Componentes da Anfia, Marco Stella, já alertou que 2025 não deve ser fácil. A produção automotiva europeia continua em baixa, a descarbonização do setor traz custos adicionais e ainda há incertezas ligadas aos novos dutos tarifários dos EUA.

Para o Brasil e para o Mercosul, no entanto, esse pode ser justamente o momento de ganhar mais espaço. Num mundo de cadeias globais cada vez mais instáveis, a proximidade geográfica, cultural e até histórica entre a Itália e a América do Sul pode se tornar um diferencial estratégico.

E assim, em meio às curvas da economia mundial, ítalo-brasileiros podem olhar para o futuro e perceber: a estrada que liga São Paulo a Vicenza pode não ser curta, mas é cada vez mais movimentada.

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