Às margens do Lago Maggiore, entre colinas perfumadas de camélias e brisas suaves vindas da água, cresce um fruto que conta uma história de viagens, resiliência e curiosidade botânica: a feijoa, uma joia verde vinda da América do Sul que encontrou um novo lar na Itália.
Um fruto exótico de alma latina
Originária das regiões subtropicais do Brasil, Uruguai e Argentina, a feijoa (ou Acca sellowiana) pertence à família das Mirtáceas, a mesma da goiaba e do eucalipto. É um arbusto perene, de flores brancas e rosadas, que se adapta bem aos climas amenos do Mediterrâneo. Seus frutos, ovais e de cor verde-esmeralda, escondem uma polpa perfumada e um sabor inconfundível: uma mistura de abacaxi, morango e hortelã, com um toque ácido que os torna únicos.
Do Trópico ao Lago Maggiore
Em Leggiuno, no vilarejo de Reno, Roberta De Rosa decidiu apostar nesse cultivo “exótico, mas sustentável”. Em sua propriedade agrícola, o Trópico dei Clement, ela transformou um cantinho do Lago Maggiore em um pequeno laboratório de biodiversidade.
“A feijoa ama o sol e não teme o frio moderado”, conta Roberta, “é uma planta que fala de equilíbrio e adaptação, assim como o vínculo entre Itália e Brasil: duas terras distantes, mas unidas pelo sabor e pela paixão pela natureza”.
Apesar dos desafios climáticos dos últimos anos, a safra de 2025 se mostra promissora. As plantas, mesmo após a nevasca de dezembro, reagiram com força, brotando com vigor.
Um sabor que conquista também a cozinha italiana
No Brasil, a feijoa é consumida fresca ou transformada em sucos, sorvetes, doces e licores artesanais. Na Itália, seu uso está se difundindo em versões gourmet: o fruto maduro, cortado ao meio e degustado com colher, libera aromas intensos e sofisticados.
É ideal também para geleias doces e salgadas, chutneys que acompanham queijos curados ou carnes brancas, além de licores aromáticos com toque cítrico.
Em Cerro di Laveno, o sorveteiro Alessandro, da Gelateria Lo Sciabilin, criou um sorvete de feijoa que virou uma verdadeira sensação local: “O sabor é surpreendente, entre tropical e alpino, como um abraço entre o Rio e o Lago Maggiore”.
Quando a natureza fala duas línguas
A história da feijoa na Itália não é apenas uma curiosidade agrícola, mas um exemplo de diálogo entre culturas. Da Mata Atlântica brasileira aos jardins italianos, esse fruto simboliza a possibilidade de um encontro harmonioso entre climas, saberes e sabores.
E assim, a cada outono, quando os frutos amadurecem entre outubro e novembro, Reno di Leggiuno ganha um perfume de Brasil. É um pequeno milagre botânico que mostra como a natureza, quando encontra mãos apaixonadas, sempre constrói pontes entre os mundos.


