Na manhã do ultimo domingo, a Praça São Pedro no Vaticano ficou tomada por cerca de 70 mil fiéis para testemunhar um momento histórico: o Papa Leão XIV canonizou Bartolo Longo, fundador do Santuário de Nossa Senhora do Rosário de Pompei. A cerimônia contou com a presença do presidente da República Italiana, Sergio Mattarella, em um clima de comoção e memória nacional.
O Papa destacou que o novo santo – junto com os primeiros da Venezuela e da Papua-Nova Guiné, além de um arcebispo mártir do genocídio armênio canonizados ontem – “não são heróis ou paladinos de algum ideal, mas homens e mulheres autênticos”.
Mas quem foi Bartolo Longo, e por que sua canonização fala tão fundo às raízes espirituais dos ítalo-brasileiros?
Nascido em 1841, em Latiano (região da Puglia), Bartolo Longo não começou sua vida como um exemplo de fé. Pelo contrário: estudante de direito em Nápoles, envolveu-se com ambientes anticlericais e chegou até a participar de círculos espiritualistas. Foi uma crise profunda – pessoal e moral – que o levou a uma reviravolta radical.
Convertido, dedicou-se à devoção ao Rosário e às obras sociais. E é aí que sua história ganha força prática e popular: Bartolo se tornou um missionário leigo, defensor dos mais pobres e dos “últimos”, especialmente órfãos e filhos de presos. Sua frase mais famosa resume sua entrega: “Quem difunde o Rosário, é salvo.”
Foi em Pompei – então uma região rural degradada, nas sombras das ruínas da antiga cidade romana – que Bartolo Longo decidiria erguer não apenas um templo, mas um símbolo de esperança para milhões. Em 1876 começou a construção do Santuário de Nossa Senhora do Rosário de Pompei, que rapidamente se tornou centro de peregrinação mariana internacional.
Hoje, Pompei é um dos principais destinos de fé na Itália, ao lado de Assis, Loreto e do próprio Vaticano.
A canonização de Bartolo Longo tem um sabor especial: ele representa uma espiritualidade popular, próxima da vida cotidiana, nascida entre trabalhadores, camponeses e famílias humildes — exatamente o perfil de muitos imigrantes italianos que cruzaram o Atlântico entre o fim do século XIX e início do XX. Há algo profundamente familiar em sua história: queda, reviravolta, trabalho, devoção e esperança. Um eco de tantas histórias italianas que deram origem ao Brasil contemporâneo.
Ao transformar um pedaço esquecido da Itália em um santuário de fé e caridade, Bartolo Longo mostrou que a espiritualidade também pode se traduzir em ação social, acolhimento e reconstrução cultural. Agora, como santo oficialmente reconhecido, ele se torna ainda mais uma referência para aqueles que veem no Rosário não apenas uma oração, mas um fio que liga gerações – da Puglia ao Paraná, de Pompei a São Paulo.
De advogado anticlerical a apóstolo do Rosário em Pompei: a historia do novo Santo Bartolo Longo

