O sonho de ter um passaporte italiano, como símbolo de pertencimento, mobilidade e reconexão com as origens, acaba de ganhar um novo e polêmico capítulo. Uma investigação conduzida pelo ministerio publico de Lanciano e pelos carabinieri de Atessa, na região dos Abruzzos, revelou um suposto esquema de corrupção envolvendo dois pequenos municípios italianos: Borrello e Montebello sul Sangro.
Segundo a acusação, um ex-funcionário público de 70 anos e uma empresária argentina de 59 anos teriam criado um sistema para “acelerar” o reconhecimento da cidadania italiana de descendentes sul-americanos. O método era simples e eficaz: residências fictícias, documentos falsificados e pagamentos que chegavam a 5.000 euros por processo. Em troca, os clientes recebiam a sonhada cidadania em tempo recorde.
No centro da trama, um B&B administrado por um dos investigados, onde foram encontrados carimbos oficiais, documentos de identidade eletrônicos e certificados de residência prontos para uso. O caso, que envolve também autoridades, é investigado como associação criminosa. As mensagens trocadas por WhatsApp entre os acusados revelaram aos investigadores o entrelaçamento pessoal e profissional que sustentava o esquema.
Embora o escândalo tenha surgido hoje em dois pequenos e pouco conhecidos municípios da Itália central, o problema não é novo. Nos últimos anos, autoridades italianas vêm desmantelando redes paralelas que prometem cidadania rápida a estrangeiros de origem italiana, sobretudo no Brasil e na Argentina, onde vivem milhões de descendentes.
Em 2022, uma operação em Serravalle a Po (Lombardia) expôs um mecanismo semelhante: brasileiros eram registrados como residentes fictícios em casas vazias do município, mediante pagamento a intermediários locais. Já em 2023, em Mineo (Sicília), a polícia descobriu um grupo de advogados e funcionários municipais que criavam documentos falsos para “clientes” na América do Sul. Em ambos os casos, as investigações apontaram o mesmo padrão: lucro fácil em cima da burocracia e o uso indevido das brechas legais do processo jure sanguinis (por direito de sangue).
A reforma Tajani contra a “comercialização dos passaportes”
Casos como o de Borrello e Montebello sul Sangro ajudam a explicar – embora so em parte – por que o governo italiano tem buscado restringir e reformar as regras de cidadania. A chamada “reforma Tajani”, proposta pelo ministro das Relações Exteriores Antonio Tajani, quis tornar o processo mais rigoroso e transparente, limitando o acesso e o tempo de análise para novos pedidos.
Um dos motivos declarados da reforma é justamente combater a chamada “comercialização dos passaportes italianos”, um fenômeno que transformou o direito de sangue (jure sanguinis) em um verdadeiro mercado global, alimentado por intermediários e falsos consultores. O objetivo, segundo o governo, seria proteger a credibilidade da cidadania italiana e garantir que o vínculo com a Itália seja autêntico e não apenas burocrático ou comercial.
No Brasil, o tema tem enorme repercussão. Estima-se que mais de 30 milhões de brasileiros tenham algum antepassado italiano, e muitos veem na dupla cidadania não apenas um passaporte europeu, mas um símbolo de identidade cultural e orgulho familiar. Cada novo escândalo mina a confiança de quem segue o caminho legal, com paciência e documentação correta, enfrentando longas filas nos consulados ou custos elevados para realizar o processo na Itália.
As autoridades italianas e consulados vêm reforçando os controles para evitar fraudes, exigindo comprovações mais rigorosas de residência, entrevistas presenciais e monitoramento cruzado entre os registros municipais e consulares.
O caso Sangro serve como alerta para quem sonha com a dupla cidadania. A Itália continua aberta aos descendentes legítimos, mas a proliferação de intermediários e “consultores milagrosos” exige atenção redobrada. Muitos ítalo-brasileiros acabam sendo vítimas, pagando caro por processos que terminam em nulidade judicial e até expulsão do país.
A promessa de rapidez pode ser tentadora, mas a verdade é que a cidadania italiana legítima é fruto de paciência, provas sólidas e respeito às regras.
Cidadania italiana sob suspeita: o escândalo que abala o sonho ítalo-brasileiro


ISSO NÃO VAI ACABAR, NUNCA? Aí vem aqueles que reclamam das nova regras, principalmente as tais “assessorias”.
Tajani e Melo nilessa cobertos de razão. Ponto final!
*Melo nilessa = Meloni