No compasso incessante de Florença, onde o tempo parece dançar entre pedras antigas e torres imponentes, existe um lugar suspenso, capaz de narrar séculos de histórias: o Caffè Gilli, fundado em 1733, guardião elegante de memórias e segredos.
Um começo que exala doçura e sonhos
É 1733, e Florença ainda está sob o governo dos Médici. Na movimentada Via dei Calzaiuoli, a família Gilli, originária da Suíça, abre a “Bottega dei Pani Dolci”, especializada em confeitaria e delícias açucaradas, que rapidamente conquista a nobreza e a elite da cidade.
Com o passar do tempo, a loja cresce, muda de endereço e se adapta às novas necessidades da cidade. Na segunda metade do século XIX transfere-se para a Via degli Speziali. Já no início do século XX, fixa-se em sua atual sede, na Piazza della Repubblica, transformando-se em ponto de encontro cultural e social.
Um local, uma cidade, mil transformações
O Gilli nunca foi apenas um café. Ele se tornou um espelho da cidade, um salão refinado onde ideias, debates e inspirações floresceram.
• Nos anos 1920 e 1930, recebeu artistas e intelectuais como Marinetti, Soffici, Boccioni, Carrà e Palazzeschi, que ali discutiam, criavam e polemizavam.
• Durante o fascismo e a Segunda Guerra Mundial, o café sobreviveu aos tempos difíceis, mantendo-se como ponto de encontro da vida florentina.
• Após a libertação de 1944 e a reconstrução da cidade, voltou a pulsar como espaço de convivência cultural.
• Em 1966, atravessou a dramática enchente de Florença, participando da retomada coletiva da cidade.
Ainda hoje, é reconhecido como um dos grandes símbolos históricos e culturais da cidade.
Atmosferas, detalhes e rituais que resistem
Entrar no Gilli é como viajar no tempo. Os interiores em estilo Liberty e Belle Époque, o teto afrescado, as paredes em tom marfim, os arcos elegantes, os lustres de Murano e o imponente balcão de nogueira criam um ambiente sofisticado e acolhedor.
Entre os detalhes mais emblemáticos está o antigo relógio, ainda em funcionamento, que domina a grande vitrine de vidro separando a sala de chá do balcão. Do lado de fora, o amplo dehors com cerca de 250 lugares oferece uma atmosfera moderna e agradável, com um sistema de nebulização que refresca os visitantes mesmo nos dias mais quentes.
Sabores, rituais e inovação
O coração do Caffè Gilli sempre foi a confeitaria: doces tradicionais de Florença e da Toscana, tortas exclusivas, bombons artesanais e viennoiserie de alta qualidade. O espaço de bistrô amplia a experiência, trazendo pratos que unem tradição italiana e toques contemporâneos.
A coquetelaria é outro ponto forte: clássicos como o Negroni são reinterpretados com criatividade, enquanto drinques autorais reforçam a atmosfera cosmopolita do local. A carta de chás selecionados completa o ritual de elegância, transformando o simples ato de sentar-se à mesa em uma experiência sensorial
Um convite ao viajante do tempo
Sentar-se a uma das mesas do Caffè Gilli não é apenas saborear um cappuccino ou um doce refinado: é mergulhar em quase três séculos de história, convivendo com a memória de artistas, poetas e viajantes que por ali passaram.
É viver Florença não só através de seus palácios e monumentos, mas por meio da alma que pulsa em seus cafés históricos.
No Gilli, tradição e modernidade caminham juntas: cada xícara, cada detalhe, cada instante convida o visitante a desacelerar, apreciar a beleza e sentir-se parte de uma continuidade que atravessa gerações.
Um verdadeiro ícone, onde o passado encontra o futuro — sempre com elegância, charme e o irresistível sabor da hospitalidade italiana.
