O recente aval da Autoridade Antitruste do Brasil (Cade) à fusão entre BRF e Marfrig deu origem à MBRF Global Foods, um gigante do setor agroalimentar com receitas estimadas em 152 bilhões de reais (cerca de 23,79 bilhões de euros).
A nova empresa atuará em 117 países e administrará marcas consolidadas como Sadia, Perdigão, Qualy, Banvit e Bassi, cobrindo toda a cadeia produtiva: carne bovina, suína, de frango e produtos industrializados.
Essa movimentação representa não apenas uma transformação do setor brasileiro, mas também tem potenciais impactos para o mercado europeu, em especial para a Itália.
O contexto brasileiro: uma concentração que mira a internacionalização
• Com a fusão, a MBRF poderá aproveitar sinergias logísticas e comerciais estimadas em cerca de 126 milhões de euros por ano.
• As autoridades brasileiras concluíram que as sobreposições competitivas entre as empresas eram modestas — com participação inferior a 20% nos mercados sobrepostos — tornando a operação compatível com as normas antitruste.
• Para BRF e Marfrig, a integração vai além da carne: envolve também produtos de valor agregado, alimentos prontos, bens agrícolas, zootécnicos e florestais.
• Apesar da nova dimensão, a JBS (principal operadora brasileira) ainda mantém um faturamento bem superior ao das duas juntas: cerca de 77 bilhões de dólares em 2024, contra 36,2 bilhões de dólares combinados da BRF + Marfrig.
Esse cenário indica que a competição no Brasil continua acirrada, mas a nova MBRF pretende se tornar um player global relevante, com maior capacidade de penetração nos mercados internacionais.
Itália e o mercado europeu: oportunidades e desafios
Na Itália, o setor de carne também passa por transformações relacionadas a normas ambientais, sustentabilidade, maior atenção dos consumidores e concorrência internacional. Nesse contexto, o surgimento de um gigante como a MBRF gera várias implicações:
1. Pressão sobre as importações
A nova estrutura brasileira pode ter margens mais competitivas graças às economias de escala e à logística otimizada, facilitando o acesso aos mercados europeus. Isso pode significar mais concorrência para os produtores italianos, especialmente nos segmentos bovino, suíno e avícola.
2. Potencial parceiro para exportações italianas
Ao mesmo tempo, a MBRF, com sua ampla rede global, pode se tornar um interlocutor interessante para empresas italianas que queiram exportar carne, produtos processados ou tecnologias na cadeia zootécnica. A presença integrada de BRF e Marfrig oferece canais de distribuição já consolidados que podem favorecer acordos comerciais bilaterais.
3. Maior atenção à sustentabilidade e rastreabilidade
O mercado italiano está cada vez mais sensível às questões ambientais, ao bem-estar animal e à rastreabilidade das cadeias produtivas. Empresas brasileiras que queiram se consolidar na Itália precisarão se adequar aos padrões europeus — muitas vezes mais rigorosos — para conquistar a confiança dos consumidores.
4. Possível realinhamento competitivo
Produtores italianos e europeus podem buscar, por um lado, alianças estratégicas (por exemplo, com empresas latino-americanas), e por outro, investir em inovação, cadeias curtas e certificações (orgânico, bem-estar animal, CO₂), para oferecer um portfólio diferenciado que resista à pressão de preços.
O surgimento da MBRF Global Foods, por meio da fusão entre BRF e Marfrig, representa um passo relevante na evolução do mercado de carne brasileiro, com claras ambições globais. Para a Itália, abre-se um cenário duplo: de um lado, uma concorrência mais intensa no mercado interno; do outro, a possibilidade de colaborações e exportações para uma estrutura brasileira fortalecida.

