dom. set 7th, 2025

Brasil e Itália: a memória compartilhada em Pistoia.

ByFrancesco Sibilla

7 de setembro de 2025 ,

De 6 a 21 de setembro, nos espaços da Ex-Igreja de São João, em Corso Gramsci, Pistoia, será realizada uma exposição fotográfica dedicada ao Cemitério Militar Brasileiro de San Rocco (1944-1960). A iniciativa é organizada por Donatella Pereira e Michela Pereira, com a colaboração de Mario Pereira, e tem como objetivo reconstruir, através de materiais em grande parte fotográficos, a história de um lugar que representa um elo profundo entre o Brasil e a Itália.

O Cemitério Militar Brasileiro foi instituído no final de 1944 para dar sepultura aos soldados da Força Expedicionária Brasileira (FEB), o contingente militar brasileiro que lutou ao lado dos Aliados contra o nazifascismo. A escolha de Pistoia não foi casual: a cidade sediava o Quartel-General da FEB e o Hospital de Campanha.

Consagrado em 2 de dezembro de 1944, o cemitério permaneceu ativo até dezembro de 1960, quando todos os restos mortais foram exumados e repatriados para o Brasil, sendo acolhidos no Monumento Nacional aos Mortos da Segunda Guerra Mundial, no Rio de Janeiro. Em 7 de junho de 1966, foi inaugurado no mesmo local o Monumento Votivo Brasileiro, que até hoje guarda a memória dos pracinhas, os soldados brasileiros que partiram em julho de 1944 para a campanha da Itália.

A mostra, baseada nos materiais do Arquivo Histórico Miguel Pereira (AMP), integrante dos Arquivos Pistoieses do Novecento, está dividida em várias seções:

1. Origens do cemitério – A escolha do terreno, a requisição e a construção confiada à Seção de Guarda da FEB. As fotos panorâmicas revelam a dedicação com que foi cuidado esse pedaço de Brasil em Pistoia, com o portal adornado pelo símbolo da FEB: a cobra verde e amarela fumando cachimbo, muitas vezes bordado nas fardas por moças italianas.

2. A estrutura – Reconstruída por meio de fotografias, documentos de arquivo e das memórias de Miguel Pereira. Uma das áreas do cemitério era destinada aos soldados alemães mortos, testemunhando o espírito humanitário dos brasileiros.

3. A vida do cemitério – Imagens e documentos mostram as cerimônias comemorativas, a calorosa participação da população de Pistoia, as visitas de italianos e brasileiros, e as homenagens das autoridades. Entre elas, destaca-se a presença, em 1956, do Presidente do Brasil Juscelino Kubitschek, fundador de Brasília.

A exposição se encerra com as fotos da solene cerimônia de despedida da cidade aos restos mortais brasileiros, celebrada na Catedral e na praça, acompanhada de um vídeo produzido por Mario Pereira em 2012.

Um documento de grande valor também será exibido: a reprodução fotográfica em tamanho natural do cartaz de 1947 que anunciava, a partir de Pistoia, a partida da tocha do Fogo Simbólico da Pátria, símbolo da unidade nacional brasileira, que conferiu à cidade toscana o título de “capital simbólica”.

Miguel Pereira, guardião da memória

A partir de junho de 1947, após o retorno ao Brasil da última Seção de Guarda, os cuidados com o cemitério foram confiados a Miguel Pereira, sargento do Exército Brasileiro, sob a supervisão do Consulado do Brasil em Florença. Pereira interpretou essa tarefa como uma verdadeira missão, reconhecida tanto pelo Brasil quanto por Pistoia.

Recordando o dia em que assumiu o encargo, escreveu:

«Naquele dia, caminhando pela primeira vez sozinho entre as cruzes dos corajosos e valorosos pracinhas, fiz comigo mesmo um solene juramento diante do Altíssimo: todos os dias, ao entrar nesta floresta de cruzes brancas, elevaria minhas orações pelas almas que aqui descansam, e dirigiria meu pensamento ao Brasil, pois aqui represento todos os brasileiros, cujo coração bate cheio de saudades pelos melhores filhos da nossa terra, que agora jazem em Pistoia».

Durante toda a sua vida, Miguel Pereira não foi apenas guardião da memória, mas também um embaixador da amizade entre Itália e Brasil, convencido de que a experiência da guerra deveria se transformar em um ensinamento de paz.

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