A Itália e o mundo empresarial acordaram hoje de luto: faleceu, aos 77 anos, Giuseppe Adolfo De Cecco, herdeiro de uma das dinastias mais emblemáticas da gastronomia Made in Italy. Mais do que um empresário, De Cecco foi o guardião de um legado que atravessou gerações, transformando o nome da família em sinônimo de excelência gastronômica e, para muitos, de identidade cultural italiana.
A notícia foi confirmada pelo próprio grupo industrial. “Anunciamos com dor a perda de uma figura central na história e no crescimento da nossa empresa”, declarou a nota oficial. “Para honrar sua memória e o extraordinário contributo que deu à empresa e ao território, suspendemos todas as atividades no dia de hoje e amanhã”.
Nascido em Abruzzo, terra de montanhas ásperas e rios caudalosos, Giuseppe Adolfo cresceu respirando o cheiro do trigo e da sêmola, herança que a família cultiva desde 1886, quando Filippo Giovanni De Cecco fundou o pastifício em Fara San Martino (Chieti). Durante mais de três décadas à frente da empresa, Giuseppe desempenhou um papel central no desenvolvimento comercial da marca, conduzindo a pasta De Cecco para além das fronteiras italianas e consolidando-a como uma das mais respeitadas do planeta. A sua gestão foi marcada por investimentos estratégicos e uma expansão que transformou a companhia em líder mundial.
Mesmo após passar o bastão ao irmão, Filippo Antonio De Cecco, atual presidente e CEO, Giuseppe continuou como referência moral e acionista influente. “Don Beppe”, como era chamado em Pescara, soube equilibrar tradição e modernidade, mantendo viva a reputação de qualidade artesanal enquanto guiava o grupo por caminhos globais.
Sob sua liderança a empresa tornou-se um império. Em 2024, o grupo fechou o balanço com um faturamento de 652 milhões de euros e lucros líquidos de 15 milhões, atingindo níveis recordes de produção. Em apenas 16 meses, foram adicionados 200 mil quintais à capacidade, exigindo novos investimentos industriais da ordem de 20 milhões de euros.
A pasta De Cecco hoje chega a mesas do mundo inteiro: 77 mil quintais para o mercado interno, 54 mil quintais para países europeus, 21 mil quintais para mercados emergentes, 14 mil quintais apenas para os Estados Unidos. Com previsão de inaugurar novas linhas produtivas em 2026, a companhia segue como uma das maiores expressões da excelência agroalimentar italiana, competindo em pé de igualdade com gigantes como Barilla, mas mantendo intacto o charme da tradição familiar.
Don Beppe e o futebol: a epopeia do Pescara Calcio
Mas Giuseppe não viveu apenas para a indústria. Sua outra paixão foi o futebol. Em 2011, assumiu a presidência do Pescara Calcio em um dos momentos mais difíceis da história do clube. Com visão ousada, apostou em Zdeněk Zeman como treinador, um profeta do jogo ofensivo que, contra todas as previsões, levou o Delfino de volta à Série A no campeonato 2011-2012. Foi sob sua gestão que despontaram três jovens que mudariam o futebol italiano: Lorenzo Insigne, Marco Verratti e Ciro Immobile. Uma tríade que, anos depois, seria protagonista na seleção nacional e em grandes clubes europeus.
Embora tenha deixado a presidência em novembro de 2011, por divergências internas, sua passagem ficou gravada na memória da torcida. Hoje, a Delfino Pescara 1936 recordou-o com gratidão. “Figura de grande importância na história do Delfino, graças à sua iniciativa o Pescara soube levantar-se num dos momentos mais sombrios da sua história. A torcida biancazzurra o lembrará sempre com afeto”.
Giuseppe Adolfo De Cecco foi mais que um industrial. Foi um homem de território, de comunidade, de paixão pelo trabalho. Levou consigo a aura dos grandes capitães de indústria italianos: discretos, obstinados e profundamente enraizados na cultura do país. Sua morte deixa uma lacuna em Abruzzo, em Pescara, na Itália e na mesa de milhões de famílias que, ao abrir um pacote de espaguete ou penne De Cecco, reconhecem não apenas um produto, mas uma história.
Hoje, o luto é nacional. Mas também é íntimo, doméstico, servido em cada prato de pasta que continua a unir gerações.
Adeus a Giuseppe Adolfo De Cecco, morre aos 77 anos o “Don Beppe” da pasta e do futebol
