seg. nov 17th, 2025

Adeus a Alice e Ellen Kessler: uma vida a duas, uma escolha compartilhada

Alice e Ellen Kessler partiram como viveram: juntas. As icônicas gêmeas do espetáculo europeu, protagonistas da era de ouro do musicarello e do varietê televisivo, morreram aos 89 anos após escolherem – segundo as primeiras reconstruções – recorrer ao suicídio assistido. Uma decisão extrema e conjunta, tomada na privacidade de sua casa perto de Munique, que reacendeu imediatamente debates e reflexões sobre o tema do fim da vida.

Para entender a dimensão emocional da notícia, basta lembrar o que as Kessler representaram para o imaginário coletivo: duas silhuetas idênticas, duas vozes que se entrelaçavam, dois sorrisos que, nas décadas de 1960 e 1970, iluminaram a televisão italiana — de Studio Uno às grandes produções da Rai que consagraram seu mito. Alemãs de nascimento, mas europeias de espírito, carregavam uma elegância natural, a disciplina da dança clássica e uma presença de palco que transformava cada aparição em acontecimento.

Por trás da leveza dos números musicais havia um vínculo muito mais profundo. As Kessler construíram uma existência a duas, uma vida paralela e indivisível: casas próximas, rotinas compartilhadas, um sentimento de pertencimento mútuo que ia muito além da imagem pública. Há anos diziam temer, mais do que qualquer outra coisa, a possibilidade de uma sobreviver à outra. “Gostaríamos de partir no mesmo dia”, confessaram no passado. Não era uma frase teatral — era a síntese de sua filosofia de vida.

A escolha pelo suicídio assistido surge, portanto, como o último ato de uma coerência absoluta, mas também como uma decisão que interpela a sociedade contemporânea. Na Alemanha, assim como em muitos outros países europeus, o tema do fim da vida permanece delicado, numa zona em que ética, liberdade individual e fragilidade se cruzam. O caso das Kessler traz o debate de volta ao centro da discussão pública, lembrando que, por trás de cada escolha, há histórias pessoais, medos e uma dignidade a proteger.

A morte delas não apaga o imaginário que criaram — ao contrário, o amplifica: plumas, coreografias perfeitas, vestidos brilhantes, a ideia de uma Europa que sabia sorrir e dançar com leveza. Com sua despedida, encerra-se uma época: a das grandes duplas do espetáculo, do varietê entendido como arte e disciplina, da elegância que não precisava de efeitos especiais.

Alice e Ellen Kessler deixam o palco como sempre fizeram: lado a lado, com uma decisão forte, discutida, mas profundamente delas. Um passo sincronizado também no último, definitivo adeus.

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