A Itália e o paradoxo da aposentadoria: trabalha-se pouco, aposenta-se muito velho

De acordo com um dossiê publicado pelo “Corriere della Sera”, com base em dados da Eurostat e da Ragioneria Generale dello Stato, os italianos devem trabalhar até quase os 70 anos no próximo futuro, mas sua vida ativa média é de apenas 32,8 anos: quase cinco a menos que a média europeia de 37,2.
Na prática, isso significa que o italiano médio começa a trabalhar tardiamente – geralmente depois dos 25 anos, frequentemente muito depois – e tem uma trajetória marcada pelo precariado, pela instabilidade, por contratos temporários, estágios e longos períodos de desemprego. Como explica o pesquisador Francesco Seghezzi, da Fundação Adapt, o problema começa na transição da educação ao trabalho: “A formação é longa, o mercado é rígido e o primeiro emprego raramente é estável. Cada interrupção significa anos de contribuição perdidos.”
A isso soma-se o fenômeno do trabalho informal, que ainda movimenta quase 9% do PIB italiano e envolve mais de três milhões de pessoas. Essa economia paralela não contribui para o sistema previdenciário, encurtando ainda mais a vida laboral oficial.
O abismo de gênero também pesa. As italianas trabalham, em média, nove anos a menos que os homens — o maior gap da União Europeia. Enquanto nos países bálticos (Estônia, Letônia e Lituânia) as mulheres já superam os homens em tempo de contribuição, na Itália elas continuam presas entre empregos precários, responsabilidades familiares e falta de políticas de apoio.
Outro fator que distorce o sistema são os chamados “baby aposentados”, funcionários que se aposentaram com poucos anos de contribuição (em media 22-25 anos) durante as décadas de 1980 e 1990. Seriam cerca de 400 mil os italianos que recebem aposentadoria há mais de 40 anos: metade deles enquadrados nessa categoria. Esses casos históricos, embora cada vez mais raros, continuam a pesar nas contas públicas e ajudam a explicar a resistência do governo em flexibilizar o sistema.
O resultado é um círculo vicioso: para sustentar um sistema sobrecarregado, o Estado eleva a idade de aposentadoria, mas a estrutura do mercado de trabalho impede que os italianos acumulem tempo de contribuição suficiente. A consequência é uma geração que trabalha menos do que deveria, mas se aposenta cada vez mais tarde: um verdadeiro paradoxo.
Sem contar a depressão demográfica, com pouquíssimas crianças nascendo e um número sempre maior de idosos, aposentados com alta expectativa de vida.
