qui. set 4th, 2025

A Europa destrava o acordo comercial com o Mercosul: nasce um mercado de 700 milhões de consumidores. E o Brasil terá maior acesso a produtos italianos.

Depois de 25 anos de idas e vindas, protestos, negociações paralisadas e mudanças de governo, a União Europeia finalmente desbloqueou o acordo de livre comércio com o Mercosul. Com as novas garantias e salvaguardas propostas pela Comissão Europeia, sobretudo em defesa da agricultura e da segurança alimentar, países como Itália, França e Polônia, antes resistentes, começaram a abrir caminho para a aprovação do tratado.  

O braço executivo do bloco ‘dos 27’ atuou concretamente para não desperdiçar a oportunidade de aprovar um acordo considerado estratégico para diversificar suas relações comerciais e fortalecer os laços econômicos e políticos com “parceiros de ideias semelhantes” em todo o mundo. Um movimento ainda mais relevante no atual cenário de guerra comercial global.

Para superar as resistências, foram criadas novas “quotas” e “ salvaguardas”, junto com um fundo de 6,3 bilhões de euros (40 bilhões de reais) que funcionará como uma rede de segurança para apoiar o setor agrícola em caso de dificuldades decorrentes da maior concorrência latino-americana, justamente o ponto central das críticas de vários países europeus.

“Sempre dissemos que o acordo pode representar uma oportunidade para setores como a indústria, o vinho e os queijos, mas também pode penalizar outros, do arroz às carnes vermelhas. Foi aprovada nossa proposta de criação de um fundo para proteger os setores contra desequilíbrios e prejuízos”, comentou o ministro da Agricultura italiano, Francesco Lollobrigida, em entrevista ao jornal La Stampa. Antes de bater martelo o texto deve ser analisado com atenção junto às associações agrícolas, que sempre consultamos antes de tomar qualquer decisão”, concluiu.

O acordo

O Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai) e a União Europeia juntos formam um mercado de mais de 700 milhões de consumidores e um Pib somado de cerca de 20 trilhões de dólares. O acordo prevê a redução gradual, em alguns casos até a eliminação total, das tarifas de importação sobre 90% dos produtos que circulam entre os dois blocos.

O que isso significa? E o que muda para os brasileiros?

Na prática, o acordo abre espaço para mais exportações do Brasil (como carne bovina, aves, açúcar e frutas tropicais) para o mercado europeu, mas também facilita a entrada de produtos europeus por aqui, e é aí que a vida do consumidor brasileiro pode ganhar um sabor a mais. Para os apaixonados por gastronomia, a notícia é excelente. Hoje, importar vinhos, queijos, massas especiais ou azeites italianos significa lidar com tarifas que chegam a 35% no vinho e até 28% nos queijos. Isso torna muitos produtos inacessíveis ou caríssimos.

Com o acordo, esses impostos vão cair progressivamente, permitindo que mais brasileiros tenham acesso a produtos que antes eram quase exclusivos. Imagine poder comprar um Chianti toscano ou um parmigiano-reggiano autêntico no supermercado por um preço muito mais próximo ao que se paga na Europa. 

O Brasil já é um grande parceiro da Itália, e o acordo tende a estreitar ainda mais essa relação. O que vem de lá não é apenas produto: é cultura. A enogastronomia italiana traz consigo séculos de tradição, técnicas artesanais e histórias familiares. Ao mesmo tempo, os italianos terão ainda mais acesso às nossas carnes, frutas e cafés, reforçando a troca de sabores e identidades.

Além da gastronomia, setores como moda, design e automóveis italianos também terão tarifas reduzidas – o que significa mais variedade e preços potencialmente mais competitivos.

Embora ainda faltem etapas políticas e ratificações (pelos parlamento europeu e dos congressos de cada um dos 27 Países) para o acordo entrar plenamente em vigor, o chamado “acordo interino” já pode liberar a parte comercial mais rapidamente, com impacto visível antes mesmo da ratificação completa. Ou seja: em pouco tempo, podemos começar a notar mudanças nas prateleiras dos supermercados, nas cartas de vinhos e nos menus de restaurantes brasileiros.

O que antes parecia um luxo reservado a poucos pode estar prestes a se tornar parte do nosso dia a dia: mais Itália no Brasil, mais Brasil na Europa.

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