qui. out 30th, 2025

A épica vinícola de um bilionário com raízes italianas esculpida na Toscana

Alejandro Bulgheroni: o magnata argentino que transformou uma pedreira toscana em catedral do vinho

Imagine um visionário cuja ambição é tão vasta quanto os horizontes de sua fortuna, um homem que redefiniu indústrias e agora, aos 82 anos, escreve um novo capítulo em sua monumental saga. Este é Alejandro Bulgheroni, o magnata argentino, cujo nome ressoa entre os mais abastados do planeta. Sua mais recente obra-prima não é um poço de petróleo, mas um santuário de vinhos meticulosamente esculpido no coração da Toscana, um retorno poético às terras de seus ancestrais. Para ele, retornar à Itália é como revisitar o passado — o mesmo caminho que seu avô percorreu em 1873 ao deixar a província de Como em busca de fortuna na Argentina.

A trajetória de Bulgheroni é uma tapeçaria de conquistas audaciosas. Com mais de seis décadas no setor energético, ele foi pioneiro em técnicas de extração que transformaram a indústria. Mas há vinte anos, uma nova paixão o arrebatou: o mundo do vinho. Com a mesma voracidade com que construiu seu império do petróleo, ele mergulhou na enologia, adquirindo joias em terroirs lendários pelo globo. A máxima que o guia em sua jornada vitivinícola é simples e poderosa: um bom terroir garante boas uvas, e boas uvas resultam em um grande vinho. Com o tempo, compreendeu que tudo começa — e termina — no solo, lição herdada do mestre enólogo Alberto Antonini.

O canto da sereia da Toscana: O legado ancestral florescendo em vinhedos milionários

A busca por excelência levou a Alejandro Bulgheroni Family Vineyards a desbravar os mais prestigiados terroirs vinícolas do mundo. Mas o chamado da Itália foi um magnetismo inegável, uma ressonância com a terra que um dia seu avô deixou. Com um investimento que se eleva a 150 milhões de euros, os Bulgheroni plantaram suas raízes profundamente na alma da Toscana. Adquiriram propriedades em regiões consagradas como Chianti (Dievole), Montalcino (Poggio Landi e Podere Brizio) e, com uma visão estratégica, no cobiçado terroir de Bolgheri, com as Tenutas Le Colonne e Meraviglia.

A filosofia de Bulgheroni é um equilíbrio sublime entre a reverência à tradição e a audácia da inovação. Em propriedades como Dievole, a história foi preservada com restaurações conservadoras que transformaram a antiga fazenda em um hotel de luxo, elevando a experiência da hospitalidade toscana. Contudo, foi na Tenuta Meraviglia, no coração pulsante de Bolgheri, que a visão de Bulgheroni transcendeu o ordinário e se materializou em uma obra-prima arquitetônica sem precedentes.

Meraviglia: Uma ópera subterrânea – A adega esculpida no coração da montanha

Oito anos de planejamento meticuloso e quase três de construção titânica culminaram na inauguração da adega da Tenuta Meraviglia. Esta não é uma vinícola comum; é uma estrutura colossal de 7.000 metros quadrados que não foi edificada sobre a terra, mas sim esculpida dentro de uma antiga pedreira abandonada, a pedreira de Cariola. Para o engenheiro Bulgheroni, forjado na arte de extrair riquezas das rochas, esta “ferida” na montanha não era um obstáculo, mas uma tela em branco para uma criação singular. A antiga pedreira foi transformada, recuperada e protegida, dando origem a um complexo arquitetônico interno de quatro andares.

Projetada pelo renomado estúdio florentino de Bernardo Tori, a adega é uma celebração da engenharia e da estética. A vasta cavidade da montanha, antes estéril, renasceu como uma espécie de anfiteatro, um “teatro grego” a céu aberto que enquadra um panorama de tirar o fôlego: a imensidão do mar Tirreno, o serpenteado litoral e a densa floresta de pinheiros. Desde o início dos projetos em 2017 até sua conclusão em junho de 2025, a jornada foi uma demonstração de tenacidade, superando desafios burocráticos e construtivos.

O que pode parecer uma estética robusta e imponente à primeira vista, revela-se um modelo de sustentabilidade refinada. As paredes internas da adega mimetizam a beleza natural dos jardins de pedras. A iluminação é cuidadosamente controlada, sendo desligada após as 23h para evitar qualquer poluição luminosa. As águas do vale são tratadas e recuperadas com esmero. A área dos barris, onde os vinhos repousam e amadurecem, desfruta da temperatura constante proporcionada pela proximidade da rocha, eliminando a necessidade de ar-condicionado. E, em um gesto de economia circular exemplar, muitos dos materiais residuais da própria pedreira – que outrora fornecia cascalho para estradas – foram reutilizados na construção, tecendo uma ponte entre o passado geológico e o futuro enológico.

Após uma série de eventos de inauguração que reuniram figuras proeminentes do cenário político e enológico, a Cantina Meraviglia retoma sua missão essencial: transformar as uvas de seus 95 hectares de vinhedos orgânicos e regenerativos – das Tenutas Meraviglia e Le Colonne – em vinhos que capturam a essência de Bolgheri. Embora sem um restaurante, a adega se abre aos visitantes, prometendo uma experiência imersiva na arte do vinho e na grandiosidade da arquitetura, um novo ponto de peregrinação para amantes da enologia na Toscana.

A Tenuta Meraviglia de Alejandro Bulgheroni não é apenas uma vinícola; é um monumento à visão, à perseverança e à capacidade de transfigurar o que era uma cicatriz na paisagem em uma obra-prima viva. É um tributo eloquente à descendência italiana de um magnata que, ao investir na terra de seus antepassados, construiu um legado que ecoa a riqueza de sua própria história e a sublime grandiosidade dos vinhos toscanos. Um convite irrecusável para testemunhar a união perfeita entre a natureza, a arte e a paixão em sua mais pura essência.

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