qui. jun 19th, 2025

A confeitaria mais antiga da Itália, reinventa a tradição

Há lugares em Gênova onde o tempo parece obedecer a uma melodia diferente, um ritmo mais suave, ditado pelo sussurro do papel de seda e pelo brilho açucarado de uma fruta cristalizada. Neste santuário de doçura, a Pietro Romanengo, a mais antiga e venerada confeitaria da Itália, oficia seus rituais desde 1780. Agora, quase 250 anos depois de seu nascimento, esta guardiã de uma herança inestimável abre um novo capítulo, convidando-nos a uma experiência ainda mais imersiva: a inauguração de La Corte.

Aninhada ao lado da sua loja-mãe na histórica Via Soziglia, La Corte não é apenas uma casa de chá; é a materialização de um desejo de partilhar a elegância e o sabor de Romanengo de uma forma mais demorada, um diálogo entre o passado majestoso e o presente refinado.

Uma herança esculpida em açúcar e mármore

Para entender a alma de La Corte, é preciso primeiro reverenciar sua origem. A Romanengo não é apenas uma loja; é um monumento vivo, protegido pela Superintendência de Belas Artes da Itália. Fundada por Pietro Romanengo numa Gênova que era um pulsante porto de especiarias, a confeitaria se tornou a epítome da arte da confetteria, dominando a transformação do açúcar, do cacau e das frutas mais frescas em joias comestíveis. Suas vitrines e balcões de mármore na Via Soziglia, restaurados com uma precisão arqueológica em 2021, já viram passar a história. Por seus salões, outrora reservados a uma clientela de elite, caminharam figuras como o compositor Giuseppe Verdi e a Duquesa de Aosta, provando dos famosos fondants, das amêndoas cobertas e das centenas de pastilhas coloridas que são, até hoje, a assinatura da casa.

É neste espírito que La Corte abre as suas portas. O ambiente, inspirado nos teatros franceses e ecoando o sucesso do conceito já testado em Milão, é um refúgio de elegância discreta. O mármore polido, a madeira nobre e os tons pastéis que acalmam a alma criam o cenário perfeito para o tilintar suave da porcelana e conversas tranquilas.

Uma sinfonia de sabores do amanhecer ao crepúsculo

A oferta de La Corte é um desdobramento meticuloso do universo Romanengo, orquestrado para cada momento do dia.

O amanhecer começa com o aroma de cafés clássicos e criações especiais, como um expresso com um toque de frutas vermelhas (€ 3) ou uma cevada delicadamente perfumada com água de flor de laranjeira (€ 3,50). A viennoiserie é uma ode à excelência: croissants, pain au chocolat e rolinhos de passas (de € 3,20 a € 3,60) são feitos com a farinha da própria Cascina Romanengo e a inconfundível manteiga da Normandia. E, num gesto de pura autenticidade lígure, a focaccia macia é servida para ser mergulhada no cappuccino (€ 2), uma tradição local elevada a um novo patamar de requinte.

Para o almoço, a simplicidade sazonal reina. O cardápio oferece pratos leves e sofisticados: um presunto de Parma que se desfaz na boca, servido com melão e um surpreendente sorvete de especiarias (€ 14); uma focaccia a portafoglio com vagem e o pesto genovês arquetípico (€ 7); ou uma delicada salada de tomate e mussarela, coroada com um azeite aromatizado com pétalas de rosa, um toque que é a cara da Romanengo.

Mas é à tarde que La Corte revela sua verdadeira vocação. A hora do chá é um ritual. Uma seleção primorosa de chás (€ 7), infusões e chocolates quentes densos (€ 3,50) são o prelúdio para uma torre de delícias. A experiência completa (€ 32 por pessoa) inclui sobremesas caseiras, biscoitos finos, frutas cristalizadas cintilantes, suspiros que se dissolvem na língua e, para um contraponto perfeito, pequenas porções salgadas como sanduíches delicados e quiches.

As sobremesas são, naturalmente, as estrelas fixas. A qualquer hora, pode-se provar um cremoso arroz-doce (€ 6,50), um canelé com sua casca caramelizada e interior macio (€ 3) ou tortinhas de frutas vermelhas (€ 3). E, para os dias mais quentes, os gelatos Romanengo são uma tentação: sabores etéreos como flor de laranjeira, rosa, limão com especiarias e amêndoa da Apúlia são servidos em taças elegantes (€ 8-12) ou na versão Paciugo (€ 13), uma apoteose lígure de sorvete, frutas frescas, calda e chantilly.

La Corte é mais do que a nova casa de chá de Gênova. É a extensão da alma da Romanengo, um convite para parar, respirar e saborear a história, uma colher de chá de cada vez.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *