Um euro. O preço de um café, de uma passagem de ônibus, de um gesto simbólico. Ainda assim, em dezenas de pequenos municípios italianos, esse euro pode ser suficiente para se tornar proprietário de uma casa. Não é um conto de fadas imobiliário nem uma jogada de marketing vazia. É uma resposta concreta a duas emergências que hoje se cruzam: a inacessibilidade econômica da moradia e o esvaziamento dos pequenos vilarejos.
A Comissão Europeia foi clara: desde 2013, os preços dos imóveis na União Europeia cresceram mais de 60%, muito acima do aumento da renda. Os aluguéis médios subiram cerca de 20%, com picos ainda maiores nas grandes cidades. Ao mesmo tempo, a demanda por moradia continua crescendo, enquanto as licenças de construção caem. Nesse cenário, a Itália tenta reagir olhando para fora dos centros urbanos, em direção às áreas internas.
Por que as casas de 1 euro existem de verdade
A premissa é simples e muitas vezes ignorada. As casas de 1 euro não estão prontas para morar. São imóveis abandonados, degradados ou até estruturalmente comprometidos, cujo os proprietários desejam transferir para não continuar pagando impostos e encargos. Construções fora do mercado, muitas vezes erguidas ou ampliadas entre as décadas de 1980 e 1990.
Para os municípios, mantê-las fechadas é um problema. Colocá-las novamente em circulação pode significar novos moradores, obras em andamento, serviços que continuam existindo. O euro simbólico se transforma em um pacto: você investe tempo e recursos, o território oferece uma nova chance.
As regras que não podem ser ignoradas
Cada edital tem suas particularidades, mas o padrão se repete. O comprador deve transferir a residência para o município, realizar a reforma completa do imóvel e não vendê-lo por pelo menos cinco anos. Não é detalhe: o objetivo não é especulação, mas repovoamento.
Além disso, existem custos inevitáveis. Escritura, registros, taxas cadastrais. E, principalmente, a reforma, que representa o maior investimento. Os municípios definem prazos claros: depois de obtidas as autorizações, as obras devem começar dentro do período estabelecido.
Licenças, garantias e burocracia local
Há ainda um ponto que costuma surpreender. Para garantir que o compromisso seja cumprido, o município pode exigir uma fiança bancária, geralmente entre 1.000 e 5.000 euros. Essa garantia protege a administração caso as obras não sejam concluídas. A fiança é liberada ao final da reforma, normalmente em até três anos.
Por isso, a recomendação é sempre a mesma: contar com um tabelião e empresas de construção locais. Eles conhecem as normas urbanísticas, os regulamentos e os tempos reais. E sabem como evitar erros que, em pequenos municípios, podem atrasar tudo.
Onde estão as casas de 1 euro
Os lugares dizem muito. No Vale d’Aosta, em Oyace, a cerca de vinte minutos de Aosta, em uma encosta cercada pelas formações rochosas da cadeia dos Morion, há imóveis abandonados à venda. No Piemonte, Borgomezzavalle, na Val d’Ossola, aposta em suas antigas casas de pedra para trazer novos moradores.
Ainda no Piemonte, Carrega Ligure tem menos de cem habitantes e fica na fronteira com a Ligúria: comprar uma casa ali significa mudar radicalmente de estilo de vida. No Monferrato, em Albugnano, a mais de quinhentos metros de altitude, o repovoamento passa também por esses projetos.
E não se trata apenas de pagar 1 euro. No Trentino, municípios da Val di Non e da Val di Sole oferecem incentivos e benefícios fiscais. Em maio, foi lançado um edital que prevê até 100 mil euros a fundo perdido para a recuperação de imóveis em 32 municípios de montanha.
Na Ligúria, o projeto ganhou também um valor simbólico. Triora, o famoso “vilarejo das bruxas”, oferece casas no centro histórico para devolver vida às ruas antigas. Pignone e Santo Stefano d’Aveto também aderiram a programas de recuperação de imóveis abandonados para atrair novos moradores.
A pergunta permanece. Comprar uma casa por 1 euro vale a pena? Depende. Não é um atalho nem um negócio imediato. É uma escolha de vida, que exige capital, paciência e disposição para lidar com a burocracia. Mas em uma Europa onde a moradia se tornou um privilégio, talvez valha a pena olhar para onde o mercado deixou de olhar. E entender se, por trás daquele euro simbólico, não existe algo muito maior em jogo.

