Em Roma, o inverno nunca chega em silêncio. Ele se anuncia por um cheiro preciso, quente e inconfundível, que se espalha pelas vielas e praças: o das castanhas assadas. É o perfume do Natal romano, mais autêntico do que as luzes festivas e mais sincero do que os pacotes enfeitados.
Os vendedores de castanhas surgem como presenças rituais, fiéis a si mesmos, nos pontos estratégicos da cidade: nas esquinas das praças históricas, diante das igrejas, ao longo das ruas do comércio popular. O seu braseiro fumegante é um pequeno lar urbano, em torno do qual param romanos e viajantes, atraídos não apenas pela comida, mas pelo gesto antigo da cozedura lenta, pelo crepitar das castanhas que se abrem no fogo, pelo cone de papel que aquece as mãos geladas.
Durante o período natalino, a sua função vai além da gastronómica. O vendedor de castanhas torna-se um guardião do tempo, um narrador silencioso da cidade. Cada cartucho conta uma Roma que resiste às modas, que não precisa reinventar-se para ser contemporânea. É uma Roma popular e gentil, feita de pausas breves, conversas improvisadas, sorrisos trocados sem pressa.
Há algo de profundamente teatral na cena: a fumaça que sobe e se mistura com o ar frio, as luzes amarelas dos postes, o burburinho da rua que se atenua por um instante. O vendedor de castanhas, muitas vezes envolto em casacos pesados e cachecóis gastos, repete gestos transmitidos por gerações, quase uma liturgia laica que se renova a cada inverno. Não é preciso falar muito: basta indicar a quantidade, receber o cone, agradecer com um aceno.
Para quem visita Roma no Natal, as castanhas assadas são uma experiência sensorial e cultural ao mesmo tempo. Custam pouco, duram pouco, mas permanecem por muito tempo na memória. São um souvenir efémero, que não vai na mala, mas é levado na lembrança: o calor nas mãos, o sabor levemente defumado, a sensação de fazer parte, ainda que por alguns minutos, da vida verdadeira da cidade.
Numa época em que o turismo tende a espetacularizar tudo, os vendedores de castanhas continuam a ser um bastião de normalidade. Não fazem espetáculo, não buscam atenção e, justamente por isso, contam Roma melhor do que mil guias. No Natal, quando a cidade parece ao mesmo tempo mais frágil e mais bela, o seu fogo aceso é um pequeno ato de resistência poética: contra o frio, contra a pressa, contra o esquecimento das tradições.
E, enquanto as castanhas acabam e as mãos voltam a ficar livres, Roma continua o seu curso. Mas, por um instante, ao redor daquele braseiro, o tempo parou.

