A castanha volta ao centro das atenções na Itália. Não apenas como fruto símbolo do outono e das mesas camponesas, mas como eixo de um projeto nacional que une agricultura, identidade cultural e futuro dos territórios rurais. A notícia vem de Florença, onde, durante a Castanea Expo, o governo italiano anunciou um novo plano de cerca de 10 milhões de euros para relançar o setor castanicultor, incluído no projeto de lei Coltivaitalia.
Durante séculos, a castanha foi chamada de “pão dos pobres”. Nas regiões montanhosas e no interior da Itália, especialmente nos Apeninos, ela garantiu sustento a gerações inteiras. Secas nos metatos, moídas em farinha, transformadas em polenta, doces e pães rústicos, as castanhas moldaram paisagens, economias locais e tradições que ainda hoje sobrevivem em festas populares, sagre e receitas transmitidas de família em família.
Cada território desenvolveu variedades próprias, sabores distintos e saberes ancestrais ligados ao manejo dos castanheiros.
Nos últimos dez anos, porém, esse patrimônio entrou em crise. Mudanças climáticas, doenças das plantas, abandono dos bosques, concorrência internacional e a falta de renovação geracional reduziram drasticamente a produção. Muitos castanhais históricos ficaram sem cuidados, contribuindo para o empobrecimento econômico e o despovoamento de áreas internas já frágeis.
O novo plano anunciado pelo Ministério da Agricultura pretende inverter essa tendência. A estratégia aposta na recuperação dos castanhais, na adaptação às novas condições climáticas, no enfrentamento dos problemas fitossanitários e na valorização econômica do produto.
Mas o objetivo vai além da produção agrícola: trata-se de reconectar a castanha ao turismo rural, à preservação das florestas e ao desenvolvimento sustentável das comunidades locais.
A ideia é transformar novamente o castanheiro em um aliado dos territórios. Um recurso capaz de gerar renda, empregos e novas oportunidades, especialmente para jovens que queiram investir em agricultura de qualidade, produtos artesanais, gastronomia e experiências ligadas à natureza.
Não por acaso, a castanha italiana hoje aparece tanto em receitas tradicionais quanto em criações contemporâneas de chefs, doces refinados, cervejas artesanais e produtos de nicho voltados a mercados internacionais.
Para um público brasileiro, essa história ecoa de forma particular. Muitos descendentes de italianos reconhecem na castanha um símbolo da vida simples dos antepassados, ligada ao campo, ao trabalho coletivo e à relação profunda com a terra.
O relançamento do setor castanicultor não é apenas uma política agrícola: é uma tentativa de proteger uma memória viva e de projetá-la para o futuro, unindo tradição, sustentabilidade e inovação.
Na Itália, salvar os castanhais significa também salvar paisagens, sabores e histórias. E apostar que, mesmo em um mundo globalizado, frutos antigos ainda podem gerar novas possibilidades.
Castanhas italianas: tradição milenar e um novo plano para salvar bosques e territórios

