ter. dez 9th, 2025

De Vicenza à Bahia: o café que une duas pátrias em um único aroma

PorFrancesco Sibilla

9 de dezembro de 2025 , , ,

Existem histórias que não pedem licença para acontecer: simplesmente acontecem. Como se já estivessem escritas na geografia íntima de uma família. E então você descobre que um pedaço do Vêneto respira do outro lado do oceano, no coração selvagem da Chapada Diamantina, onde a terra é vermelha, o ar é leve e o café não é apenas um produto, mas um relato. Uma ponte. Uma nostalgia que vira empresa.

Mas o que leva dois irmãos vicentinos, agricultores por vocação, a fincar raízes justamente no Brasil? Que chamado profundo os convence, em 1995, a embarcar num voo que não é apenas geográfico, mas geracional? Talvez a mesma inquietação fértil que, há um século e meio, empurrou os imigrantes italianos rumo a terras distantes. Talvez aquela necessidade tão berica de enxergar além do perfil das colinas, como se os campos não fossem limites, mas aberturas.

Maurizio e Renzo Ferrari dizem rindo: “Somos indígenas berici”. E, por trás da ironia, há uma verdade que pesa: o desejo de preservar a própria identidade sem renunciar ao mundo. Assim nasce uma cadeia produtiva que hoje liga Colloredo a Campo Limpo e Santa Maria, uma fazenda de 630 hectares entre mata atlântica e plantações, onde apenas 135 hectares são dedicados ao café. O resto? Mata para preservar, como um pacto silencioso com a natureza. E aqui a história muda de tom: não é mais uma epopeia agrícola comum, mas um manifesto de sustentabilidade.

A 1.100 metros de altitude, com um clima que acaricia em vez de castigar, dez agricultores e um jovem agrônomo brasileiro cuidam diariamente de um equilíbrio frágil. Porque cultivar não significa apenas produzir, mas ouvir a terra que acolhe e responder com respeito. É aqui que o café vira sentinela ecológica, símbolo de uma agricultura que não devora, mas devolve.

E quando aqueles grãos Catuai, Bourbon, Pacamara atravessam o Atlântico e chegam a Campiglia dei Berici, não é apenas mercadoria que desembarca. É um pedaço do Brasil entrando em casas italianas, trazendo sol, trabalho e dignidade. Na empresa Diamantina Caffè, o nome já é uma homenagem ao que se deseja proteger: a memória de uma terra rica, complexa, muitas vezes explorada, hoje valorizada com uma abordagem ética e circular.

A torra, mais clara, revela uma escolha: deixar o grão falar. Permitir que sabores, cremosidade e perfumes se revelem. Mas, sobretudo, permitir que valores apareçam. Porque dentro daquela xícara não há apenas aroma: há o testemunho de uma cadeia que não sacrifica o meio ambiente pelo lucro, que não trata trabalhadores como peças, que entende que cada produto é uma responsabilidade.

E então surge a pergunta: o que significa realmente empreender em 2025? Será voltar a uma agricultura que não consome o futuro, mas o constrói? Será aceitar que as raízes podem crescer também longe, desde que o vínculo com aquilo que somos não se rompa?

Os irmãos Ferrari parecem ter encontrado sua resposta. E já não estão sozinhos. Uma nova geração está assumindo a história: Michele, Marco, Davide, Nicolò. Jovens de trinta e poucos anos que olham o mundo de frente, prontos para transformar tradição em vanguarda sem perder o sabor da terra que os formou.

É assim que um café ítalo-brasileiro se torna mais do que um produto: vira narrativa. Vira migração ao contrário. Vira ética líquida dentro de uma xícara ainda fumegante.

E então, da próxima vez que bebermos café, teremos coragem de perguntar de onde ele realmente vem? E, sobretudo: a qual futuro estamos brindando, sem perceber?

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