ter. nov 11th, 2025

Unesco dá primeiro “sim” à cozinha italiana como patrimônio Cultural Imaterial da humanidade

A cozinha italiana deu hoje um passo histórico recebendo o primeiro parecer oficial favorável da Unesco para integrar a Lista do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. O órgão técnico da Organização das Nações Unidas recomendou oficialmente a inscrição da “cucina italiana”. O parecer será agora submetido ao Comitê Intergovernamental da Unesco, que se reunirá em Nova Délhi, na Índia, entre 8 e 13 de dezembro. É nesse encontro que sairá a decisão final, de natureza política.

Para Pier Luigi Petrillo, professor da Luiss Guido Carli e responsável pelo dossiê de candidatura, o avanço é promissor, mas exige cautela. “A avaliação técnica mostra que o dossiê é sólido e alinhado aos objetivos da Unesco. Mas este primeiro ‘sim’ não deve criar ilusões, porque o Comitê pode revisar completamente a recomendação”, disse à imprensa. Um lembrete elegante de que, até dezembro, o jogo segue aberto.

A candidatura da cozinha italiana não celebra apenas receitas: celebra modos de viver, formas de estar em família, relações com o território, saberes que passam de mãos calejadas a mãos jovens. Elementos bem conhecidos no Brasil, onde – graças à emigração – vive uma comunidade estimada entre 30 e 35 milhões de descendentes, que deram nova vida a essas tradições e as misturaram à cultura local sem perder o vínculo emocional com a origem.

Para muitos destes ítalo-brasileiros, essa possível inscrição na lista da Unesco funciona como um espelho afetivo: confirma que aquilo que sempre foi praticado dentro de casa — a comida feita com tempo, a importância do convívio, o respeito aos ingredientes — é reconhecido mundialmente como parte de um patrimônio coletivo.

O processo da Unesco também ajuda a entender por que a gastronomia italiana exerce tanto fascínio internacional. Não é apenas pelo sabor (embora conte muito): é pela relação profunda entre culinária, território e comunidade. A comida é memória, é língua, é gesto. E quando um prato muda de continente, como aconteceu com os italianos que desembarcaram nas Américas e no Brasil entre os séculos XIX e XX, ele carrega consigo pedaços de identidade.

Reconhecer essa herança culinária como patrimônio imaterial significa valorizar não apenas tradições antigas, mas também suas reinvenções ‘fusion’ nos trópicos. Do molho de tomate que encontrou o clima tropical, a polenta que virou prato de festa no Sul, a pizza que ganhou sotaque paulistano, os cafés e cantinas que moldaram bairros inteiros.

Até dezembro, resta esperar. Mas o entusiasmo já se espalha entre chefs, pesquisadores, famílias e comunidades italianas ao redor do mundo. E, no Brasil, onde a cozinha italiana se enraizou com especial força, o possível reconhecimento tem sabor de confirmação: a comida que define tantas histórias familiares pode, em breve, ser oficialmente considerada patrimônio da humanidade.

Compartilhar:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *