A Itália, com toda a sua beleza e tradição, também revela contrastes profundos quando o assunto é bem-estar social. Segundo o Welfare Italia Index 2025, o país registra uma crescente distância entre o Norte e o Sul: um retrato que fala de oportunidades desiguais, mas também de um futuro que ainda pode ser redesenhado.
As regiões de Trento e Bolzano, nos Alpes, lideram o ranking de qualidade de vida, saúde e educação, enquanto Calábria, Basilicata e Campânia aparecem nas últimas posições. A diferença entre a melhor e a pior região chegou a 23,6 pontos, um salto de 9% em relação ao ano anterior.
Em números amplos, o sistema de welfare italiano absorveu 669 bilhões de euros em 2024, o equivalente a 60% dos gastos públicos. Desse total, a previdência social representa 16% do PIB (acima da média da zona do euro, de 12,3%), enquanto a educação fica em 3,9% do PIB (contra 4,6% na média europeia) e as políticas sociais, em 4,9% (contra 7,3% na UE).
Em outras palavras: a Itália gasta mais com aposentadorias do que com o futuro das novas gerações.
O estudo, promovido pelo Think Tank “Welfare, Italia”, mostra um país que envelhece rápido e perde força produtiva. Até 2050, os italianos com mais de 65 anos devem representar quase 35% da população, enquanto o número total de habitantes cairá para 54,8 milhões. Menos jovens, menos trabalhadores, e mais pressão sobre o sistema social.
Entre os desafios mais urgentes, o relatório aponta a evasão escolar (9,8% dos jovens entre 18 e 24 anos) e a baixa taxa de formados universitários (31,6% na faixa de 25 a 34 anos, contra 44,1% na média europeia). Não por acaso, 49 mil graduados deixaram o país em 2024, em busca de melhores oportunidades — uma perda que custa quase 7 bilhões de euros por ano ao sistema nacional.
No mapa social, quase um quarto da população (23,1%) vive sob risco de pobreza ou exclusão, especialmente nas regiões do Sul, onde a taxa de desemprego juvenil continua alta e o trabalho feminino ainda está 13 pontos abaixo da média europeia.
O relatório, no entanto, não é apenas um diagnóstico, mas também um convite à ação: investir em educação, inovação, políticas ativas de emprego e prevenção em saúde.
Cada euro aplicado na prevenção, lembra o estudo, pode gerar até 14 euros em retorno social e econômico. Se o país conseguisse alcançar os níveis médios europeus em emprego jovem, feminino e de estrangeiros qualificados, poderia gerar até 2,8 milhões de novos postos de trabalho e aumentar o Pib em 10,6%.
Um sonho possível, desde que o investimento no chamado “capital humano” se torne mais que um slogan. Porque o verdadeiro futuro da Itália, como lembram os autores do relatório, não está apenas em suas montanhas nem nas suas praças históricas, mas nas mãos das pessoas que ainda acreditam no poder da educação, da equidade e das oportunidades compartilhadas.

