sáb. nov 1st, 2025

O torrone mais lendário da Itália ainda é feito à mão: a magia de Nanni, o mestre doceiro de 94 anos em Visone

ByFrancesco Sibilla

31 de outubro de 2025 , ,

Em um pequeno vilarejo do Piemonte, entre as colinas da província de Alessandria, o tempo parece ter parado. Em Visone, na Via Acqui 17, o ar da manhã é tomado pelo perfume de mel quente e avelãs torradas — sinal de que, na antiga oficina Canelin, fundada em 1864, Giovanni “Nanni” Verdese, de 94 anos, já começou a trabalhar. Há mais de setenta anos, esse homem cria à mão um torrone único no mundo, guardião de uma tradição que já dura seis gerações.

“Com o torrone, é preciso fazer amor — caso contrário, ele não dá certo”, diz Nanni com um sorriso que cheira a sabedoria e açúcar. Em seu laboratório, tudo conta uma história: as caldeiras de cobre, o mármore branco, o papel encerado amarrado à mão. Cada peça nasce de gestos antigos, transmitidos apenas pela voz, nunca escritos.

Uma história que cheira a mel e memória

A história da Canelin começou em 1864, quando Antonio Porta, bisavô de Nanni, percorria os vilarejos com seu balcão de torrone artesanal. Desde então, pouca coisa mudou: a loja continua no mesmo lugar, o método é o mesmo, e a receita — clara de ovo, açúcar, mel silvestre de Fossano e avelãs Tonda Gentile — permanece intacta há mais de 160 anos.

Nanni entrou no laboratório aos 14 anos, em plena guerra, e aprendeu a reconhecer o ponto certo do mel apenas pelo cheiro. “Você sente quando ele pinica o nariz — nem antes, nem depois”, explica. É uma arte feita de sensibilidade, experiência e silêncio, em que cada erro custa uma massa doce irrecuperável.

O segredo: paciência e mãos experientes

O dia de Nanni começa antes do amanhecer, com a caldeira já acesa às 4h30. A mistura de clara, açúcar e mel é mexida por horas, até que a mão reconheça o momento perfeito. Só então chegam as avelãs, torradas separadamente, adicionadas “quando o torrone está pronto para recebê-las”. Nada de termômetros ou cronômetros: apenas instinto, ouvido e olhar.

Cada barra é espalhada sobre o mármore, deixada esfriar e cortada com faca. Tudo ainda é feito como há um século: à mão, devagar, com precisão quase poética. “O torrone precisa ser escutado”, diz Nanni. “Se você o deixa sozinho, ele se vinga.”

Uma tradição que continua

Hoje, ao lado de Nanni estão Paola Piana e Matteo, seus sobrinhos e guardiões dessa magia. São eles também os responsáveis pela sorveteria de Acqui Terme, aberta em 1958, onde o famoso sabor torroncino nasce do mesmo torrone de Visone. É assim que a tradição se renova sem perder sua alma: com o mesmo cuidado, os mesmos ingredientes autênticos e a mesma filosofia artesanal.

Um símbolo do verdadeiro made in Italy

O torrone Canelin já foi elogiado por mestres como Veronelli, Vissani e Nonino, mas Nanni sempre recusou a grande distribuição. “Quem quer o meu torrone tem que vir aqui, me apertar a mão”, repete ele. E talvez seja exatamente esse o segredo de seu sucesso: a autenticidade.

Num mundo dominado pela indústria e pela automação, em um pequeno laboratório piemontês, um homem de 94 anos continua lembrando que a verdadeira excelência não se mede em quantidade, mas em dedicação.

E assim, enquanto o aroma de mel e avelãs invade as ruas de Visone, Giovanni Verdese continua misturando memória, paciência e amor de seis gerações. Porque certos sabores nunca envelhecem — e, como seu torrone, tornam-se lenda.

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