ter. nov 4th, 2025

O mar avança com as mudanças climática: Itália pode perder 1 a cada 4 praias até 2050

O som das ondas que molda há séculos o verão italiano pode, em poucas décadas, se tornar memória. Um estudo da Società Geografica Italiana, apresentado em Roma sob o título “Paesaggi sommersi”, revela um cenário preocupante: uma em cada cinco praias da Itália pode desaparecer até 2050, e quase metade delas até o final do século.

A causa é múltipla: a elevação do nível do mar, a erosão acelerada, a urbanização sem freio e a pressão turística. O relatório identifica áreas críticas no Alto Adriático, no Delta do Pó e na Laguna de Veneza, mas também na costa da Toscana, no Gargano, em Cagliari e Oristano, na Sardenha. Nessas zonas, portos, plantações e bairros inteiros correm risco de ficar submersos. Estima-se que 800 mil pessoas precisem ser realocadas até o fim do século.

Os geógrafos alertam que as defesas artificiais, como diques e barreiras, que hoje protegem mais de um quarto do litoral, já não bastam e, em muitos casos, agravam a erosão. A salinização dos solos agrícolas é outro sinal da crise: no verão de 2023, a água do mar avançou mais de 20 quilômetros pelo Delta do Pó, ameaçando plantações e o abastecimento de água potável. Mesmo as áreas protegidas, que cobrem cerca de 10% das águas e costas italianas, raramente têm planos de gestão eficazes.

Para Claudio Cerreti, presidente da Sociedade Geográfica Italiana, o caminho não é o pânico, mas a ação. “Precisamos inverter a rota: menos cimento, mais natureza. As praias e os ecossistemas precisam de espaço para se adaptar”. O relatório propõe duas linhas de intervenção: a renaturalização dos litorais e a redução da artificialização das margens, restituindo às dunas e zonas úmidas a capacidade de defesa natural. Há também uma crítica à política italiana: planos fragmentados e decisões locais desconectadas dificultam qualquer resposta eficaz. “Faltam coordenação e visão de longo prazo”, lamenta Cerreti. O ministro para a Proteção Civil e Políticas do Mar, Nello Musumeci, reconheceu o problema. “A política olha demais para o presente e pouco para o futuro”, disse.

Para os ítalo-descendentes no Brasil, a notícia traz um eco simbólico. As praias italianas não são apenas paisagens: são pedaços de história e de identidade. Lugares como Veneza, Rimini, Positano ou Cagliari representam memórias familiares e culturais. O avanço do mar ameaça também essa herança emocional. Uma lembrança que, se nada for feito, pode literalmente ser levada pelas ondas.

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