No calendário da Igreja, há dias que todos conhecem: o Natal, a Páscoa, Pentecostes. São ocasiões de grande participação popular e ampla cobertura midiática, quando as imagens da Praça de São Pedro percorrem o mundo. Mas ao lado dessas celebrações “populares” existe um tecido mais discreto, feito de festas e comemorações que permanecem confinadas dentro dos muros leoninos: são as chamadas festas “internas”, momentos litúrgicos e institucionais que pertencem sobretudo àqueles que vivem ou trabalham no Vaticano.
Trata-se de aniversários, comemorações ligadas a santos patronos de determinados ofícios, celebrações de dicastérios ou ocasiões que têm valor sobretudo para a comunidade que, diariamente, dá vida à Santa Sé. Festas que raramente viram notícia, mas que revelam um rosto mais familiar da Igreja: o de um organismo que se move, trabalha, reza e partilha uma identidade silenciosa, porém essencial.
Um exemplo é a comemoração dedicada a São Luís Orione, celebrada internamente por setores como o serviço postal vaticano: não é uma festa turística, mas profundamente ligada ao espírito de serviço. O mesmo se pode dizer do dia reservado à Cúria Romana durante o Jubileu Extraordinário da Misericórdia, ocasião para reconhecer-se como comunidade antes de instituição.
Os ofícios litúrgicos do Vaticano também vivem celebrações próprias, onde se manifesta o ritmo oculto do serviço ao Papa. E algumas festas litúrgicas menos conhecidas, como a da Visitação da Virgem Maria, conservam um valor espiritual que, no Vaticano, se respira com particular intensidade.
Para compreender melhor essa dimensão, pedi um comentário a um funcionário da Santa Sé, que chamaremos Monsenhor R., há anos a serviço no Vaticano.
Mons. R., por que existem festas internas, longe dos holofotes?
“Porque a Igreja não é apenas o que se vê. Toda grande celebração exige um longo trabalho nos bastidores. E essas festas nos lembram que esse trabalho é uma vocação antes de ser um emprego.”
O que elas significam para quem vive o Vaticano como espaço cotidiano?
“São um alívio. Um momento para rezar e agradecer sem a pressão das multidões e das câmeras. Aqui olhamos nos olhos uns dos outros: somos uma pequena comunidade que sustenta a grande comunidade dos fiéis no mundo.”
Não teme que, permanecendo tão escondidas, se perca uma parte importante da narrativa da Igreja?
“Compreendo essa preocupação, mas a visibilidade não é medida de valor. Algumas coisas florescem melhor na sombra. Se a Igreja existe também nos dias comuns, é graças a esses momentos silenciosos.”
Em um tempo em que o que não aparece corre o risco de não existir, essas comemorações internas também interpelam a comunicação eclesial: como contar uma fé que se manifesta sobretudo na vida de todos os dias? Talvez a resposta seja simples: recordar que a Igreja está viva não apenas quando reúne multidões, mas também quando, com poucos, se recolhe para prosseguir seu caminho. As festas internas do Vaticano são prova disso: ali, na discrição, muitas vezes nasce o que um dia se tornará grande.

