Na Itália, quase 10 milhões de casas estão vazias, enquanto milhares de pessoas enfrentam dificuldade para encontrar aluguel. Segundo um recente relatório da Fundação Ifel, Istituto para a Finança e Economia locale, cerca de 25% das habitações italianas estariam desocupadas: ou seja, 9,7 milhões de unidades.
O fenômeno das casas vazias é impulsionado principalmente pelo medo de alugar e depois não conseguir retirar um inquilino inadimplente, mas também por outros fatores: muitos imóveis ficam parados para uso próprio eventual, para manutenção do patrimônio ou simplesmente porque o proprietário prefere investir em segurança financeira em vez de lidar com o aluguel.
A situação varia bastante de região para região. Em Milão e Roma, a porcentagem de casas vazias é relativamente baixa, entre 12% e 15%, enquanto em Napoli e Torino sobe para cerca de 19% e 23%. O recorde absoluto está em Reggio Calabria, com mais de 40% das casas desocupadas. Parte desse número se explica pelo fato de que muitos imóveis pertencem a famílias que emigraram para o Norte da Itália ou para o exterior, mas mesmo assim o índice impressiona.
Manter uma casa vazia em áreas de alto valor imobiliário é arriscado: o proprietário continua pagando impostos como IMU (IPTU) e IRPEF, arca com despesas de manutenção e deixa de ganhar rendimentos que poderia ter investido o capital. E, mesmo assim, muitos preferem não alugar, para evitar lidar com inquilinos que não pagam ou que não desocupam o imóvel.
O relatório da Ifel deixa claro: o processo de despejo longo e burocrático é um dos principais motivos que desestimula o aluguel. Apenas 13,1% das casas italianas estão alugadas, muito abaixo de países vizinhos como França (33,3%) e Alemanha (55,4%).
No Brasil, a situação é semelhante. Apesar da Lei do Inquilinato (Lei 8.245/91) prever despejo em caso de inadimplência, o processo pode se arrastar por meses ou até anos, dependendo da sobrecarga do Judiciário. Em São Paulo, por exemplo, estimativas do setor imobiliário indicam que cerca de 10% dos imóveis residenciais estão vazios, muitas vezes por medo de inadimplência ou falta de confiança nos contratos.
O resultado: proprietários preferem manter o imóvel parado ou alugar apenas por curtos períodos, via plataformas como Airbnb, para reduzir riscos.
Então, por que tantos italianos compram casas mesmo sem usá-las? É cultural. Na Itália, possuir um imóvel é mais do que um investimento financeiro: é uma forma de patrimônio familiar e instrumento de bem-estar intergeracional. Muitos idosos conseguem apoiar filhos e netos justamente porque não têm aluguel para pagar. A cultura da propriedade funciona como um welfare paralelo.
Itália bate recorde: 1 em cada 4 casas está vazia. Medo de inquilinos inadimplentes trava mercado

