qui. out 30th, 2025

Itália bate recorde: 1 em cada 4 casas está vazia. Medo de inquilinos inadimplentes trava mercado

Na Itália, quase 10 milhões de casas estão vazias, enquanto milhares de pessoas enfrentam dificuldade para encontrar aluguel. Segundo um recente relatório da Fundação Ifel, Istituto para a Finança e Economia locale, cerca de 25% das habitações italianas estariam desocupadas: ou seja, 9,7 milhões de unidades.

O fenômeno das casas vazias é impulsionado principalmente pelo medo de alugar e depois não conseguir retirar um inquilino inadimplente, mas também por outros fatores: muitos imóveis ficam parados para uso próprio eventual, para manutenção do patrimônio ou simplesmente porque o proprietário prefere investir em segurança financeira em vez de lidar com o aluguel.

A situação varia bastante de região para região. Em Milão e Roma, a porcentagem de casas vazias é relativamente baixa, entre 12% e 15%, enquanto em Napoli e Torino sobe para cerca de 19% e 23%. O recorde absoluto está em Reggio Calabria, com mais de 40% das casas desocupadas. Parte desse número se explica pelo fato de que muitos imóveis pertencem a famílias que emigraram para o Norte da Itália ou para o exterior, mas mesmo assim o índice impressiona.

Manter uma casa vazia em áreas de alto valor imobiliário é arriscado: o proprietário continua pagando impostos como IMU (IPTU) e IRPEF, arca com despesas de manutenção e deixa de ganhar rendimentos que poderia ter investido o capital. E, mesmo assim, muitos preferem não alugar, para evitar lidar com inquilinos que não pagam ou que não desocupam o imóvel.

O relatório da Ifel deixa claro: o processo de despejo longo e burocrático é um dos principais motivos que desestimula o aluguel. Apenas 13,1% das casas italianas estão alugadas, muito abaixo de países vizinhos como França (33,3%) e Alemanha (55,4%).

No Brasil, a situação é semelhante. Apesar da Lei do Inquilinato (Lei 8.245/91) prever despejo em caso de inadimplência, o processo pode se arrastar por meses ou até anos, dependendo da sobrecarga do Judiciário. Em São Paulo, por exemplo, estimativas do setor imobiliário indicam que cerca de 10% dos imóveis residenciais estão vazios, muitas vezes por medo de inadimplência ou falta de confiança nos contratos.

O resultado: proprietários preferem manter o imóvel parado ou alugar apenas por curtos períodos, via plataformas como Airbnb, para reduzir riscos.

Então, por que tantos italianos compram casas mesmo sem usá-las? É cultural. Na Itália, possuir um imóvel é mais do que um investimento financeiro: é uma forma de patrimônio familiar e instrumento de bem-estar intergeracional. Muitos idosos conseguem apoiar filhos e netos justamente porque não têm aluguel para pagar. A cultura da propriedade funciona como um welfare paralelo.

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