Em uma das cidades mais fascinantes e desiguais do mundo, onde o mar encontra as favelas e arranha-céus dividem espaço com realidades opostas, o futebol tornou-se um instrumento de renascimento. No coração do Complexo da Maré, recomeçou a 29ª temporada do Inter Campus Brasil, o projeto social que há quase três décadas utiliza a bola como ferramenta de educação, inclusão e dignidade.
Foi em meados dos anos 1990 que a Inter lançou o programa Inter Campus, com o objetivo de devolver às crianças o direito ao jogo e à infância. O Brasil foi um dos primeiros países a abraçar a iniciativa e, justamente em Rio de Janeiro, junto com Recife, nasceram os primeiros núcleos.
Hoje, em comunidades como Vila do João, Parque União, Caju, Del Castilho, Salsa e Merengue, Conjunto Esperança, Turiaçu e Manguinho, cerca de 600 crianças vestem semanalmente a camisa nerazzurra, orientadas por treinadores locais formados pelo Inter Campus.
Futebol como escola de vida
Para essas crianças, crescer na Maré significa enfrentar desafios diários: pobreza, violência e poucas oportunidades. O projeto oferece muito mais que treinos, é um espaço de aprendizado, de convivência e de construção de valores como respeito, solidariedade, cooperação e disciplina.
“Não ensinamos apenas futebol”, explicam os coordenadores. “Ensinamos uma forma de acreditar em si e no outro. Cada treino é uma lição de confiança e esperança.”
A mais recente visita da delegação do Inter Campus ao Brasil coincidiu com duas datas simbólicas: a Festa Nacional de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, e o Dia das Crianças, celebrado em 12 de outubro.
As famílias participaram da cerimônia de entrega dos uniformes, um momento emocionante, sentido como um rito coletivo de pertencimento e orgulho. Alguns pais, ex-jogadores ou antigos participantes do projeto, compartilharam como a camisa nerazzurra mudou suas vidas, transformando um sonho infantil em uma nova perspectiva de futuro.
Um modelo reconhecido no mundo
Hoje, o Inter Campus está presente em 30 países, alcançando mais de 10 mil crianças e colaborando com centenas de educadores locais.
Cada país tem sua realidade, mas o propósito é único: promover o direito ao jogo como ferramenta de desenvolvimento humano.
No Brasil, o projeto já recebeu reconhecimentos de universidades e ONGs internacionais, por sua capacidade de atuar em contextos vulneráveis e transformar o futebol em uma linguagem universal de inclusão social.
Em 2026, o Inter Campus Brasil celebrará três décadas de atividades contínuas, um feito raro para um projeto esportivo de cooperação internacional.
Para a diretora do programa, Sabrina Rossi, “estar aqui há quase trinta anos significa que o vínculo entre a Inter e o Brasil é mais forte do que nunca. Cada criança que veste essa camisa representa uma história de futuro, não de assistência, mas de crescimento e autonomia”.
Em um país onde o futebol é quase uma religião, o Inter Campus tornou-se uma missão social. Mais do que formar jogadores, ele forma cidadãos. Constrói comunidades, une gerações e prova que o jogo pode, sim, mudar a vida de uma pessoa.
E, à medida que o 30º aniversário se aproxima, a mensagem continua a mesma: “Até a próxima”, porque o futuro começa com uma bola, um sorriso e um sonho nerazzurro.

