qui. out 30th, 2025

Michelangelo volta a brilhar: o “Deus Fluvial” em mostra em Florença depois da restauração

Enquanto o mundo moderno se move rápido demais, a Itália continua a lembrar que a beleza pode ser eterna. Em Florença, o coração artístico do Renascimento, uma das obras mais misteriosas de Michelangelo Buonarroti acaba de ganhar nova vida: o “Dio Fluviale” (Deus Fluvial) voltou a ser exibido ao público, na Accademia das Artes e do Desenho, após um longo e delicado processo de restauração e realocação.

A escultura, doada ao instituto em 1583 por Bartolomeo Ammannati, passou décadas fora de exibição por causa das dificuldades técnicas de conservação. Só entre 2015 e 2017, graças ao trabalho da restauradora Rosanna Moradei, do Opificio delle Pietre Dure, e ao apoio da fundação Friends of Florence, a peça pôde ser recuperada por completo. Agora, o “Deus Fluvial” está protegido por uma estrutura de vidro criada em Veneza, que evoca o movimento da água e conta com dispositivos antisísmicos. Um toque de modernidade que dialoga com a engenhosidade de Michelangelo.

O novo espaço expositivo, projetado pelos arquitetos David Palterer e Norberto Medardi, apresenta a escultura sobre uma base de madeira, cercada por luz e transparência. Ao lado, estão expostas também uma luneta de Francesco Granacci e um crucifixo de madeira da oficina dos Sangallo, compondo uma atmosfera que mistura fé, técnica e harmonia: os três pilares da arte renascentista.

Mais do que um retorno físico, o “Deus Fluvial” simboliza um reencontro com a própria essência da arte italiana, feita de paciência, cuidado e reverência pela forma. Michelangelo, que via na escultura um modo de libertar a figura escondida no mármore, volta a inspirar gerações que, séculos depois, ainda se perguntam como tanto vigor e espiritualidade podem coexistir em pedra.

Para os brasileiros ítalo-descendentes, essa é uma ótima razão para redescobrir Florença e o universo de Michelangelo além do Davi e da Capela Sistina. Caminhar por suas ruas é sentir que a arte ali não está apenas nos museus, mas nas paredes, nas praças e até no ar. Uma herança viva que continua a moldar o olhar do mundo sobre a beleza.
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