De 23 a 29 de setembro Milão apresentou uma moda que retorna ao uso real sem abrir mão do sonho: alfaiataria fluida, couros gráficos, transparências inteligentes, tramas táteis. Uma semana compacta, marcada por estreias fortes (entre elas Versace com Dario Vitale) e por momentos de cultura pop que transformaram o desfile em narrativa coletiva.
Análise geral
• Prada trabalhou a relação corpo/estrutura: organza sobreposta, transparências controladas, alfaiataria “móvel”; leveza como função, não como ornamento.
• Bottega Veneta definiu um luxo silencioso: volumes puros, tramas materiais, técnicas que se percebem de perto mais do que em fotos.
• Giorgio Armani encerrou o fim de semana com sedas impalpáveis e reflexos madrepérola, reafirmando a ideia de uma graça atemporal.
• Versace (estreia de Dario Vitale) reacendeu o léxico da casa com estampas ousadas, cores vibrantes, denim em tons fortes, bra-tops e ternos esculturais, modernizando a energia do final dos anos 80 de Gianni.
• Dolce & Gabbana transformou a passarela em cena de “PJ Obsession”: pijamas couture com cristais, rendas e faux-fur; e a primeira fila virou cinema com Meryl Streep (Miranda Priestly) e Stanley Tucci (Nigel) sentados diante de Anna Wintour para as filmagens da sequência de O Diabo Veste Prada.
Tendências dominantes
• Transparências disciplinadas (organza, chiffon) que revelam sem expor.
• Couro gráfico & artesanato (Tod’s, Ferragamo) em paleta natural com acessórios esculturais.
• Alfaiataria suave e sedosidade luminosa (Armani).
• Tramas e texturas (Bottega Veneta) como linguagem identitária.
• Denim e peças coloridas separadas (Versace) reacendendo o espírito pop da cidade.
Estreias e impacto
• Versace / Dario Vitale: estreia de alta voltagem (local intimista, imprensa internacional), com estampas poderosas, ternos estruturados e bra-tops; uma reafirmação do glamour energético da casa.
• Gucci (em formato não tradicional) e outras mudanças criativas marcaram um turn-over geracional; mas foi em Milão que o diálogo entre herança e presente ganhou corpo.
• Moda & cinema: D&G transformou Milão em set a céu aberto com Streep/Tucci, amplificando o impacto midiático global da semana.
Top looks icônicos
Versace — Terno estampado em cores saturadas com bra-top joia e denim contrastante: o manifesto da estreia de Vitale entre pop e rigor.
Dolce & Gabbana — Pijama couture em seda listrada com bordados de cristais e faux-fur slides: conforto elevado a espetáculo.
Prada — Vestido em organza preta sobre alfaiataria sutil: transparência “útil” que molda o corpo.
Bottega Veneta — Vestido longo em couro finíssimo + maxi intrecciato: quiet luxury tátil.
Giorgio Armani — Conjunto perolado em seda com blazer impalpável: a linha da elegância que desliza.
Emergentes / novas vozes
Marco Rambaldi — Crochê multicolorido com mensagens inclusivas bordadas: comunidade em passarela.
Sunnei — Total look fluo desestruturado apresentado em chave performática: ironia metropolitana.
MSGM — Minivestido gráfico ácido: energia pop, ritmo urbano.
Encerramento (imersivo)
Quando as luzes se apagaram, recordei o farfalhar da organza, o toque do couro fino, o sorriso surpreso de uma plateia que — diante dos pijamas cravejados de cristais e das estampas gritantes da Versace — percebia estar vivendo um momento em que a cidade muda sem se trair. Milão não escolheu entre memória e futuro: vestiu ambos, como só ela sabe fazer.







