A partir do ano letivo de 2025-2026, que começa entre os dias 8 e 16 de setembro, os celulares estarão proibidos não apenas nas escolas primárias, mas também no ensino médio em toda a Itália. A medida – parecida com aquela aprovada no Brasil a partir deste ano – foi anunciada pelo governo, por meio do ministro da Educação Giuseppe Valditara, em uma série de entrevistas recentes.
A regra é clara: ao entrar em sala, os alunos deverão deixar os celulares em compartimentos específicos, recuperando-os apenas ao final das aulas. O descumprimento da norma acarretará sanções, definidas pelos regulamentos internos de cada instituição.
Segundo Valditara, os efeitos do uso excessivo de smartphones são “dramáticos”, tanto no desenvolvimento psicoemocional dos jovens quanto no rendimento escolar. Entre os problemas destacados estão dificuldades de concentração, memorização e o aumento dos casos de ansiedade e depressão. “Acredito que a via mais eficaz seja acostumar os jovens a uma espécie de desintoxicação digital, devolvendo espaço ao livro, ao papel e à caneta”, afirmou o ministro.
Dados do Instituto Superior de Saúde da Itália revelam que mais de um quarto dos adolescentes italianos apresenta uma relação problemática com o celular. O impacto é visível também nas relações sociais. Em junho, um estudante chegou a ser hospitalizado com sintomas semelhantes à abstinência alcoólica, após ficar sem o aparelho — episódio que gerou grande debate no país. Além disso, 38% dos jovens apresentam distúrbios do sono ligados ao uso do celular e a taxa de reprovação é até três vezes maior entre aqueles que utilizam o dispositivo de forma exagerada.
Paralelamente ao veto, haverá um reforço no campo educativo: durante as aulas de educação cívica, os professores tratarão do uso consciente da tecnologia, dos riscos da internet e da importância de proteger a saúde mental. O ministro voltou a defender ainda a proibição do uso de redes sociais por menores de 15 anos. A proposta, de caráter bipartidário, já está em discussão no Parlamento e, segundo Valditara, deverá ser aprovada em breve.
No Brasil, antes do início do ano letivo em fevereiro, o governo federal aprovou uma lei semelhante que estabelece que o uso de celulares será limitado em salas de aula e corredores. No entanto, o smartphone ainda poderá ser utilizado para fins educacionais, com autorização do professor, ou por estudantes que necessitem do dispositivo por questões de acessibilidade ou saúde.
Antes mesmo dessa legislação, a maioria dos 26 estados brasileiros e cerca de dois terços das escolas do país já haviam aplicado algum tipo de restrição ao uso do celular, segundo levantamento realizado no ano passado pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil.
Especialistas brasileiros também apontam preocupações semelhantes às da Itália: perda de concentração, aumento de distúrbios de sono, dificuldades de aprendizagem e riscos associados às redes sociais. Mas há quem defenda o celular como ferramenta pedagógica, especialmente em regiões onde o acesso a tablets e computadores escolares ainda é limitado.
De acordo com pesquisas de mercado divulgadas no ano passado, os brasileiros passam em média 9 horas e 13 minutos por dia diante das telas, um dos índices mais altos do mundo.