Na histórica Bari Vecchia, a tradicional arte da fabricação de orecchiettes, a emblemática massa confeccionada manualmente em pequenas conchas, tornou-se palco de tensões que ultrapassam os limites da gastronomia local. Conhecida como a “guerra das orecchiettes”, a disputa revela um conflito entre autenticidade e regulamentação, tradição e mercado, enquanto a cidade luta para preservar sua identidade cultural.
Na última quarta-feira (20), a tensão atingiu um novo ápice. Após a apreensão de 151 quilos de produtos alimentícios incluindo taralli, tomates secos e, especialmente, orecchiette vendidos sem as devidas autorizações, as pastaie organizaram um protesto no centro histórico. O motivo? A venda de itens em barracas sem autorização e, principalmente, a comercialização de produtos industrializados, que eram disfarçados de artigos artesanais. Em resposta, os produtores bloquearam a rua, impedindo a passagem de turistas e chamando a atenção para a situação. O episódio gerou debates acalorados sobre a preservação de uma imagem que se tornou um símbolo da cidade de Bari.
O vereador Pietro Petruzzelli, responsável pelo Desenvolvimento Local, defendeu a ação policial, destacando a importância de proteger a autenticidade das orecchiette feitas à mão. Ele afirmou que as pastaie podem continuar a exibir suas massas frescas e demonstrar o processo de produção, mas a venda de produtos industriais sem licença é ilegal. Além disso, três comerciantes foram multados por comércio ilegal em terras públicas e ocupação ilegal de espaços públicos.
Essa não é a primeira vez que a cidade enfrenta esse tipo de conflito. Desde 2024, investigações do Ministério Público de Bari estão em andamento para apurar denúncias de que orecchiette produzidas industrialmente estão sendo vendidas como artesanais para turistas. A acusação é de fraude alimentar, com o objetivo de proteger tanto os consumidores quanto os produtores legítimos.
As pastaie são figuras emblemáticas de Bari Vecchia. Suas barracas de madeira, montadas nas estreitas ruas de paralelepípedos, são um cartão-postal para os visitantes. A tradição de fazer orecchiette à mão é passada de geração em geração, sendo um símbolo da identidade cultural local. No entanto, o aumento do turismo e a pressão econômica têm levado alguns a buscar alternativas mais rentáveis, incluindo a venda de produtos industrializados.
Após o protesto, algumas pastaie foram recebidas pela Prefeitura para discutir soluções. O objetivo é encontrar um equilíbrio que permita a continuidade da tradição artesanal, ao mesmo tempo em que se respeitem as normas de segurança alimentar e comércio. A criação de regulamentações claras e a implementação de licenças específicas para a venda de produtos artesanais estão sendo consideradas como possíveis caminhos para resolver o impasse.
A “guerra das orecchiette” é um reflexo das tensões entre preservação cultural e modernização econômica. Enquanto as pastaie lutam para manter viva uma tradição que define sua identidade e sustento, as autoridades buscam garantir a autenticidade e segurança dos produtos oferecidos aos consumidores. O desfecho dessa disputa poderá servir de modelo para outras comunidades que enfrentam desafios semelhantes na preservação de suas tradições em um mundo globalizado.

