qui. ago 21st, 2025

Verão italiano: O paradoxo dos dados e a realidade nas praias

Um debate acalorado paira sobre o verão italiano de 2025. Enquanto o governo e a Confcommercio celebram um “agosto excelente” para o turismo, as praias e os operadores locais relatam uma queda significativa no movimento. Essa dissonância de informações levanta uma questão central: o que realmente está acontecendo com o turismo na Itália? A resposta parece estar na chegada massiva de turistas estrangeiros, que estão salvando a temporada, e na mudança de hábitos dos próprios italianos.

A controvérsia foi acesa por dados otimistas da Confcommercio, que preveem que 18,1 milhões de italianos sairão de férias em agosto, um número que o governo de Giorgia Meloni prontamente usou para defender suas políticas. No entanto, a realidade nas praias, como apontam associações como a Assobalneari, é de uma queda de 20% a 30% no público. Sindicatos de trabalhadores de resorts de praia confirmam a tendência, estimando uma ocupação 15% menor em comparação com 2024.

O ator Alessandro Gassmann, ecoando o sentimento popular, criticou abertamente os preços, sugerindo que os resorts de praia teriam “exagerado um pouco”. Mas a explicação não é tão simples. A inflação generalizada no país afetou os custos de férias de forma sistêmica. De acordo com a Altroconsumo, os preços de acomodação subiram 34% desde 2020. A Codacons, por sua vez, revelou que em julho os preços de voos domésticos dispararam 35,9%, enquanto aluguéis de carro e casas de férias também registraram aumentos consideráveis. Os resorts de praia, embora também mais caros, parecem ser apenas parte de um problema maior de custos.

A salvação estrangeira e a mudança de rota dos italianos

Apesar da queda no público italiano, os números gerais do turismo não estão em colapso. O segredo está nos visitantes de fora. A análise da Assoturismo-Confesercenti mostra que o número total de visitantes no verão deve aumentar ligeiramente (1,1%), mas essa alta é impulsionada por um crescimento de 1,8% de turistas estrangeiros. Países como França, Alemanha e Holanda lideram o ranking de chegadas.

Em algumas regiões costeiras, os turistas estrangeiros já são a maioria dos clientes. Na Romagna, eles ultrapassam 50%, enquanto na Sardenha houve um boom de visitantes da Alemanha e Suíça. No Vêneto, as praias dependem fortemente dos turistas do Leste Europeu. Esses dados corroboram a tendência de que, enquanto os italianos reduzem gastos e buscam alternativas, o charme do Belpaese continua atraindo visitantes internacionais dispostos a pagar os preços inflacionados.

O debate também revela uma mudança de preferência entre os próprios italianos. Setenta por cento deles ainda optam por férias dentro do país, mas os destinos mudaram. Embora Emília-Romanha e a Toscana se mantenham populares, há um “boom” nas montanhas, como apontou Luca De Carlo, presidente da Comissão de Turismo do Senado. O Trentino-Alto Ádige, Vale de Aosta e Abruzzo estão experimentando um aumento significativo no número de visitantes, uma tendência que o governo Meloni atribui ao seu modelo de “dessazonalização” e “deslocalização” do turismo, que visa combater a superlotação das áreas litorâneas e em grandes cidades.

Embora o governo celebre a mudança como um sucesso de suas políticas, a divisão entre os dados e a realidade sentida nas praias mostra um cenário mais complexo. A temporada de verão não está em colapso, mas está em profunda transformação. O turismo italiano está se reconfigurando, dependendo cada vez mais do poder de compra de estrangeiros e diversificando-se para além dos tradicionais destinos de praia. Os dados finais, que serão divulgados em setembro, trarão a clareza necessária para desvendar este paradoxo.

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