A Calábria continua preservando e transmitindo a antiga tradição da produção da seda, herança que atravessa séculos e resiste ao tempo.
Existem diferentes teorias sobre a origem dessa arte na região, mas a mais aceita sustenta que foram os bizantinos os responsáveis por introduzir a sericicultura na Calábria e na Sicília, entre os séculos VI e IX. Com a chegada dos normandos, especialmente a partir do reinado de Rogério II, a tecelagem da seda — até então praticada de forma doméstica e artesanal — passou por um processo de refinamento técnico e expansão comercial.
A localização estratégica da Calábria, entre o Mediterrâneo e o Oriente, favoreceu a assimilação de novas técnicas de produção, incluindo a criação do bicho-da-seda (Bombyx mori). O clima ameno, a abundância de amoreiras e o ambiente montanhoso criaram as condições ideais para o desenvolvimento dos casulos. Embora os bizantinos tenham provavelmente introduzido o trabalho com seda em Catanzaro, há evidências de práticas sericícolas anteriores ao ano 1000.
Entre os séculos XI e XII, a cidade de Catanzaro — que se tornaria o principal centro sericícola da Calábria — recebeu uma expressiva comunidade judaica, estabelecida no bairro Giudecca durante o governo de Roberto Guiscardo. A presença de mercadores da Costa Amalfitana e da Sicília nesse mesmo período impulsionou ainda mais o florescimento dessa arte.
Nos séculos XII e XIII, a produção de seda se transformou em uma verdadeira indústria. Algumas fontes indicam que os árabes podem ter introduzido técnicas ainda antes da chegada dos bizantinos, demonstrando a complexidade das influências culturais na região.
Entre 1200 e 1250, o imperador Frederico II do Sacro Império Romano-Germânico promoveu o desenvolvimento econômico da Calábria, incentivando feiras comerciais nas principais cidades. Já no final do século XIII, a seda calabresa começou a conquistar os mercados italianos e europeus.
Durante os períodos angevino e aragonês, a indústria da seda atingiu um novo auge. Em 1519, o imperador Carlos V concedeu a Catanzaro o direito de criar o Consulado da Arte da Seda, órgão responsável por controlar a qualidade dos produtos destinados à exportação — um marco na institucionalização da atividade.
Durante séculos, a produção de seda foi uma das principais fontes de riqueza e prestígio da Calábria, consolidando seu papel como protagonista no cenário econômico e artesanal do Mediterrâneo.