qui. out 30th, 2025

A “Baleia” incendiada em Milão: A obra de arte que se tornou a própria mensagem

Nesta segunda-feira (14), um ato de vandalismo chocou a cena cultural de Milão e lançou uma sombra sobre a 24ª Exposição Internacional da Trienal. A monumental instalação “Baleia” do renomado artista e mestre dos carros alegóricos de Viareggio, Jacopo Allegrucci, foi consumida pelas chamas, em um incidente que as autoridades já estão investigando com a prisão do suposto incendiário. O que era para ser um símbolo da fragilidade ecológica, tornou-se, ironicamente, a vítima de sua própria mensagem.

A obra e seu grito silencioso

A “Baleia” era mais do que uma escultura; era um grito silencioso. Feita de papel machê, um material inerentemente frágil e reciclável, a obra integrava a série “A Fragilidade do Futuro” de Allegrucci, composta por quatro animais ameaçados de extinção. Além da baleia, um elefante, uma girafa e um hipopótamo se revezavam em frente à Trienal, cada um representando a grandiosidade da natureza que corre o risco de desaparecer.

O significado da obra, conforme o site oficial da Trienal, era profundo: uma “reflexão urgente sobre a fragilidade da nossa realidade ecológica e as desigualdades que marcam a nossa relação com o mundo natural”. Allegrucci, com sua maestria em reproduzir formas imponentes, buscou criar um paralelo entre a condição efêmera do papel machê e a vulnerabilidade das espécies ameaçadas. O material, por excelência reciclável, era também um símbolo de deterioração, destinado a sofrer os efeitos do tempo e dos elementos. A ironia de seu incêndio deliberado ressoa como um eco sombrio de sua própria mensagem.

O artista por trás da fragilidade

Jacopo Allegrucci não é um nome qualquer no cenário artístico italiano. Formado em Decoração pela Academia de Belas Artes de Carrara, ele é uma figura central no icônico Carnaval de Viareggio, onde se tornou um dos mestres mais respeitados na construção de carros alegóricos. Sua jornada começou em 1998, com a primeira máscara isolada “Il Metronotte”, e rapidamente ascendeu, conquistando quatro vitórias na primeira categoria do Carnaval. Sua experiência na criação de estruturas gigantescas, muitas vezes efêmeras por natureza, e sua tese sobre o próprio Carnaval de Viareggio, fornecem um contexto fascinante para sua escolha do papel machê e sua fascinação pela grandiosidade e pela transitoriedade.

Além de suas contribuições para o Carnaval, Allegrucci também deixou sua marca em produções teatrais e até mesmo colaborou na criação do desfile de abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno de Turim em 2006. Sua habilidade em moldar o papel machê para expressar ideias complexas e impactantes faz com que o ataque à sua obra na Trienal seja ainda mais doloroso.

Um ato de vandalismo que reforça a mensagem

O incidente, ocorrido pouco antes das 6h, mobilizou a Polícia Rodoviária Estadual e o Corpo de Bombeiros. A rápida identificação e prisão do suposto incendiário pela Delegacia de Polícia de Milão demonstra a seriedade com que as autoridades estão tratando o caso, provavelmente culminando em uma prisão por incêndio criminoso.

No entanto, o fogo que consumiu a baleia de Allegrucci não destruiu sua mensagem; pelo contrário, a intensificou. O ato de vandalismo, por mais deplorável que seja, ironicamente sublinhou a própria fragilidade que a obra de arte pretendia evocar. A “Baleia” queimada em Milão agora se torna um poderoso lembrete de que a vulnerabilidade ambiental e social não é apenas uma abstração; é uma realidade tangível, capaz de ser brutalmente consumida, assim como a esperança por um futuro mais sustentável pode ser.

A Trienal de Milão, um palco de inovação e reflexão, foi palco de uma triste ironia. A destruição da “Baleia” de Jacopo Allegrucci serve como um chamado à ação, um lembrete vívido de que a fragilidade do futuro está nas mãos de todos nós, e que a arte, mesmo em suas formas mais delicadas, pode acender as chamas da consciência.

Você acha que a destruição da obra de arte de Allegrucci pode paradoxalmente fortalecer a mensagem original do artista sobre a fragilidade do nosso ecossistema?

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