sex. jul 4th, 2025

Civita di Bagnoregio – a cidade suspensa

Imagine um lugar que desafia a lógica, um cenário tão inverossímil que parece ter saltado das páginas de um romance de fantasia. Um lugar onde a porta de casa só pode ser alcançada após uma travessia vertiginosa de 300 metros, suspensa no vazio. Não é lenda, nem roteiro de cinema. Estamos falando de Civita di Bagnoregio, na região do Lácio, Itália.

Esta antiga cidade medieval, uma joia incrustada no topo de uma colina de tufo vulcânico, está literalmente isolada do mundo. Ligada à “civilização” por uma única e estreita ponte pedonal de concreto – um cordão umbilical de 300 metros de comprimento. Não há estradas, não há carros. Apenas seus passos, o vento sussurrando ao redor e o abismo sob seus pés. É uma paisagem que, de longe, parece flutuar, uma ilha de pedra e história erguendo-se majestosamente em meio a um vale erodido.

Mas o que torna Civita di Bagnoregio verdadeiramente fascinante, o detalhe que arrebata a alma e prende a respiração, é a sua teimosa existência. Apelidada, não por acaso, de “a cidade que morre”, ela resiste ao inexorável avanço da erosão que lentamente consome suas fundações. E, desafiando essa sina geológica, vivem lá, de forma estável, apenas onze pessoas.

Onze almas corajosas…

Pense nisso: todas as manhãs, essas poucas e determinadas pessoas despertam em um mundo à parte, literalmente suspensas entre o céu e a terra. Cada necessidade diária – uma compra no mercado, uma consulta médica, um encontro com amigos – implica atravessar aquela ponte. Cada ida e vinda é uma pequena odisseia, um lembrete constante da fronteira tênue entre seu lar e o mundo exterior.

Enquanto milhões de turistas, atraídos por sua beleza impossível e sua aura de fim de mundo, atravessam a mesma ponte anualmente, pagando para entrar e admirar a cidade como se fosse um museu vivo, para essas onze pessoas, Civita di Bagnoregio não é uma atração. É simplesmente lar.

Eles escolheram ficar. Optaram por habitar não apenas casas antigas, mas um pedaço da história que se desfaz, um símbolo de resistência em face da inevitabilidade. É uma escolha que fala de raízes profundas, de um amor incondicional por um lugar que se agarra à vida com a mesma tenacidade de seus habitantes.

Às vezes, a beleza mais profunda não reside na perfeição, mas no improvável. E a resistência mais verdadeira não é a que luta para ir, mas a que escolhe ficar, fincar pé, mesmo quando tudo ao redor parece conspirar para afastar. Civita di Bagnoregio não é apenas uma cidade suspensa; é um testamento vivo da força do espírito humano e da magia que pode florescer nas margens mais precárias da existência. Um lugar que, ao se recusar a morrer, nos ensina sobre o que significa viver.

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