Você achou que sabia tudo sobre a culinária italiana, não é? Que o Coliseu é romano, a pizza é napolitana e a Amatriciana… ah, a Amatriciana! Aquela joia com guanciale, pecorino e molho de tomate suculento, que transborda roma pura e sabor. Pois bem, prepare-se para ter seu paladar e sua mente virados de cabeça para baixo! Uma bomba antropológica caiu sobre a mesa italiana, e ela é tão saborosa quanto chocante: a Amatriciana, na verdade, não é romana. Pasmem! É napolitana. Sim, você leu certo. Antes que seu bucatino caia no chão, venha desvendar essa curiosidade que fará você querer correr para contar para todo mundo!
A Amatriciana: Um passaporte secreto do Reino de Nápoles
Parece inacreditável, quase uma afronta à tradição, mas a verdade reside nos anais da história. Amatrice, a cidade que empresta seu nome a essa joia da culinária, antes de se aninhar na província de Rieti, no Lácio, era parte integrante do vasto e influente Reino de Nápoles! Mais especificamente, pertencia à longínqua província de Abruzzo Ultra, aquelas terras que ficavam além do rio Pescara. É como descobrir que um primo distante, que você sempre pensou ser de um lugar, na verdade, veio de uma família completamente diferente!
Mas a trama dessa história gastronômica se adensa e fica ainda mais fascinante. A “avó” da nossa amada Amatriciana era tão diferente que você mal a reconheceria. Ela nem sequer era um molho para massas! Imagine a cena: pastores em suas longas transumâncias (a migração sazonal com seus rebanhos) levavam consigo os suprimentos essenciais e práticos para a vida nas trilhas. Não se tratava de uma refeição elaborada, mas de um sustento. Eles carregavam guanciale, pecorino e banha, ingredientes robustos e nutritivos, e usavam-nos para… temperar o pão! Sim, o pão!
E a curiosidade não para por aí: essa versão primordial era completamente “branca”, desprovida do tomate que hoje consideramos indispensável. Era a famosa Grícia – um prato simples, direto, que servia como base. A partir dessa tela em branco, o prato começou sua longa e criativa jornada, incorporando inovações e nuances. Brincando com as palavras, poderíamos dizer que, para chegar à Amatriciana que amamos, foram necessários “cinquenta tons de Grícia”. Uma evolução constante, cheia de experimentações e sabores.
A grande virada: O tomate do sul e a romanização do sabor
A grande revolução, o ponto de virada que selou o destino da Amatriciana, veio com a chegada triunfal do tomate. Essa fruta vibrante, importada das províncias ensolaradas do sul do Reino das Duas Sicílias, uniu-se à festa de sabores, trazendo cor e acidez. Em seguida, veio a união com a massa. E aqui, mais uma reviravolta: o parceiro original não era o bucatino, mas o espaguete! Até hoje, as sinalizações em Amatrice orgulhosamente proclamam a cidade como a “cidade do espaguete à Amatriciana”, um testemunho dessa fase inicial.
Mas Roma, a cidade que sempre soube como absorver e transformar, não demoraria a colocar sua assinatura inconfundível. As “inovações romanas” foram definitivas e deram ao prato a forma que hoje o consagra mundialmente. Isso incluiu a substituição de qualquer queijo de ovelha pelo icônico Pecorino Romano (o verdadeiro!). A introdução do tomate se consolidou de vez, e, finalmente, a grande troca: o espaguete cedeu lugar ao bucatino. Ah, o bucatino! Com seu furo central, ele se tornou o parceiro perfeito, capturando o molho de uma forma que só ele consegue, conferindo à Amatriciana aquela marca tipicamente romana que a distingue.
No fim das contas, a identidade de um prato não se limita ao seu berço, mas sim ao palco onde ele evolui, onde ele renasce e se torna inimitável. É por isso que, apesar de suas raízes profundas no antigo Reino de Nápoles e sua história de passagem pelo Abruzzo, a Amatriciana que brilha e encanta o mundo hoje é, sem dúvida, aquela que se degusta em Roma. A cidade soube adotar, nutrir e refinar um filho pródigo, transformando-o em um ícone global.
Quem diria que um prato tão “romano” teria passaporte sulista? Então, da próxima vez que você se deliciar com um prato de Amatriciana, lembre-se: você não está apenas comendo, está viajando no tempo e desvendando um dos segredos mais divertidos e saborosos da Itália.