O novo relatório Bes 2024 do Istat confirma um cenário que o país conhece, mas raramente enfrenta: o abusivismo edilício que continua sendo uma ferida aberta, especialmente no Mezzogiorno.
Enquanto no Norte apenas 4,6 casas ilegais surgem a cada 100 autorizadas, no Sul o número explode para 40,2, praticamente uma casa fora da lei para cada duas em conformidade.
Os piores dados vêm de Basilicata e Calábria, ambas com 54,1 construções irregulares a cada 100 legais. Logo atrás aparece a Campânia (50,4), seguida de Sicília (48,2) e Puglia (34,8).
Demolições muito abaixo do necessário
Segundo o relatório “Abbatti l’Abuso!” da Legambiente, entre 2004 e 2022 foram emitidas 70.751 ordens de demolição nas regiões mais afetadas, mas apenas 15,3% foram realmente executadas.
Em alguns casos, a situação é quase simbólica:
• Calábria: menos de 1 em cada 10 casas ilegais é demolida
• Puglia: 10,2%
• Campânia: 13,1%
• Lazio: 17,2%
Em cidades como Catanzaro (0,7%) e Brindisi (0,2%), as demolições praticamente não existem.
Costas sob ataque: quase metade dos crimes é edilício
No litoral, o fenômeno fica ainda mais evidente. O relatório Mare Monstrum mostra 10.332 crimes edilícios em um único ano, representando 41,2% de todas as infrações costeiras.
Em ilhas menores, a média chega a um abuso a cada 12 habitantes.
Um problema estrutural, não episódico
A combinação de altas taxas de construção ilegal e demolições insuficientes cria um mercado paralelo que se mantém estável há décadas. A proposta de reabrir o condono (perdão) de 2003 reacende o debate, especialmente porque chega às vésperas das eleições regionais na Campânia, a região com mais casos pendentes.
Enquanto o país discute, o mapa é claro:
O Sul concentra mais da metade de todo o abusivismo italiano.
E sem intervenções reais — não apenas anistias — a legalidade continuará perdendo terreno, metro por metro.

