Quando pensamos em grandes casas de ópera da Europa, nomes como a Royal Opera House de Londres, a Opéra Garnier de Paris ou a Scala de Milão e a Fenice de Veneza, logo vêm à mente. Mas poucos sabem que o verdadeiro pioneiro nasceu em Nápoles, então sob dominação espanhola: o Teatro di San Carlo, inaugurado em 1737 por ordem do rei Carlos de Bourbon, é o teatro de ópera mais antigo do mundo, e ainda em atividade.
Com sua planta em formato de ferradura, o San Carlo não foi apenas um palco de música e drama, mas um modelo arquitetônico que inspirou gerações de teatros líricos na Itália e em toda a Europa, incluindo a própria Scala de Milão. Sua abertura antecedeu em décadas os ícones culturais de Londres e Paris: 41 anos antes da inauguração da Scala (1778), 55 anos antes da Fenice (1792), mais de um século antes da Opéra Garnier (1875) e quase 120 anos antes da atual Royal Opera House (1858).
Pioneiro em tudo, até nos detalhes, o San Carlo foi inicialmente decorado com poltronas e cortinados em azul celeste, a cor da Casa de Bourbon. Só mais tarde, após reformas do século XIX, o teatro adotou o vermelho escuro, que se tornou o padrão dos grandes palcos líricos europeus e permanece até hoje como marca estética das óperas.
Para entender esse protagonismo, basta olhar os números da época. Em 1737, Nápoles tinha cerca de 400 mil habitantes, sendo a terceira maior cidade da Europa – só atrás de Londres (cerca de 700 mil) e Paris (500 mil). Era muito maior que Milão (120 mil) e Veneza (140 mil), que só depois alcançariam destaque cultural. Ou seja: quando o San Carlo foi inaugurado, Nápoles já era uma verdadeira metrópole europeia, vibrante e cosmopolita, enquanto outras cidades ainda eram relativamente pequenas ou discretas em termos culturais.
Esse contexto explica por que Nápoles viveu, no século XVIII, um de seus períodos mais brilhantes, com intensa vida artística, circulação de ideias e uma cena musical de referência mundial. O San Carlo recebeu e lançou alguns dos maiores nomes da música: Rossini, que ali foi diretor musical, Donizetti e Verdi, que apresentaram obras históricas, e até o lendário tenor Enrico Caruso, orgulho napolitano que conquistou o mundo.
Hoje, quase três séculos depois, o San Carlo continua ativo, recebendo óperas, balés e concertos que mantêm viva a tradição de uma casa que não apenas resistiu ao tempo, mas ajudou a definir a própria história da música.
San Carlo, o primeiro teatro do mundo que fez de Nápoles a capital da ópera
