Chega ao Brasil um dos relatos mais impactantes sobre a história política italiana do século XX: o sequestro e assassinato do ex-primeiro-ministro Aldo Moro, figura central da Democracia Cristã.
O livro O Caso Moro, escrito em 1978 pelo jornalista e ex-deputado Leonardo Sciascia (1921-1989), desembarca agora nas livrarias brasileiras pelo selo Manjuba, de não ficção da editora Mundaréu, em tradução de Federico Carotti. A obra, publicada ainda sob o calor dos acontecimentos, parte das cartas escritas por Moro durante os 55 dias em que esteve prisioneiro das Brigadas Vermelhas, grupo terrorista de extrema esquerda.
Na manhã de 16 de março de 1978, Moro se dirigia ao Parlamento para consolidar o chamado compromesso storico, tentativa inédita de conciliação entre democratas-cristãos e comunistas, em meio à instabilidade dos chamados “anos de chumbo”. No caminho, foi sequestrado por militantes armados e levado à chamada “prisão do povo”. Ali, escreveu dezenas de cartas em que pedia negociação e apelava aos aliados. Seus apelos, no entanto, foram sistematicamente ignorados pela própria Democracia Cristã.
Em sua análise, Sciascia vai além da narrativa factual do sequestro. O autor examina as contradições morais e políticas que marcaram a resposta ao caso, lendo “nas entrelinhas” das cartas de Moro a clareza de raciocínio que seus companheiros de partido se recusaram a reconhecer. Mais do que uma crônica de época, o livro se apresenta como uma reflexão atemporal sobre a essência do poder.
Nas palavras de Sciascia:
“Ele vivera para o poder e do poder até as nove da manhã daquele 16 de março. Esperava ainda tê-lo, talvez para retomá-lo em plenitude, certamente para adiar a morte. Mas agora sabe que são os outros que o detêm. Reconhece nos outros a face obtusa, feroz e grotesca do poder: nos ‘amigos’, nos ‘fieis das horas alegres’, das macabras, obscenas horas alegres do poder.”
