A Itália acaba de divulgar um retrato amplo e inédito da evolução dos seus museus estatais. O Livro Branco dos Museus Estatais Italianos, fruto de um projeto de MondoMostre em colaboração com o Departamento de Economia da Universidade Roma Tre, analisou a performance de cerca de 450 instituições entre 1996 e 2023. O resultado impressiona: mais de 1 bilhão de visitantes no período, com 4,4 bilhões de euros em receitas acumuladas.
A pesquisa se baseia no novo Database dos Museus Estatais Italianos, criado para integrar dados de visitantes, bilheteria, serviços adicionais, royalties de concessionárias privadas e séries históricas do Istat sobre turismo e população. Trata-se de uma ferramenta aberta, pensada para oferecer pela primeira vez uma visão completa sobre o funcionamento do sistema cultural público do país.
Os números mostram um sistema museológico que cresceu de forma constante. A média anual de aumento de visitantes foi de 4,7%, enquanto as receitas passaram de 52,7 milhões de euros em 1996 para 313 milhões em 2023.
No entanto, essa expansão é fortemente concentrada. Apenas 25 grandes instituições respondem por 85% dos resultados. Os três gigantes — Coliseu, Uffizi e Pompeia — representam mais da metade de todo o fluxo de visitantes e receitas. Ao mesmo tempo, muitos museus menores seguem distantes da sustentabilidade financeira, com bilheterias incapazes de sustentar a operação básica de ingressos e serviços.
A partir de 2015, a autonomia administrativa concedida a alguns museus transformou sua capacidade de gestão. Instituições como o Museu Arqueológico de Nápoles registraram aumento mais acentuado tanto no número de visitantes quanto nas receitas, quando comparadas a museus sem autonomia.
Do total de 4,4 bilhões de euros arrecadados no período, 3,4 bilhões vieram da bilheteria, enquanto 961 milhões foram gerados pelos serviços adicionais, como livrarias, cafés e visitas guiadas. Grande parte desses serviços é operada por empresas privadas, o que limita a receita destinada ao Estado, que recebe apenas cerca de 13% em royalties. Até 2019, os serviços adicionais renderam 924 milhões de euros, sendo que livrarias e taxas de pré-venda representaram 65% dessa cifra.
Durante a apresentação do estudo no Ministério da Cultura, a professora Laura di Pietro, uma das curadoras do livro, destacou como os dados demonstram o potencial dos museus quando há gestão eficiente, autonomia e capacidade de investimento.
O deputado Federico Mollicone, presidente da Comissão de Cultura da Câmara, lembrou que esses resultados dialogam diretamente com a reforma “Italia in scena”, recentemente aprovada.
A medida prevê uma Anagrafe Digital dos Institutos e Lugares da Cultura, banco de dados que mapeará de forma unificada todo o patrimônio cultural público italiano para torná-lo mais acessível, transparente e valorizado.
O desempenho dos museus italianos e a experiência italiana mostram como investimento, autonomia e dados bem estruturados podem transformar o setor cultural. Num momento em que o turismo cresce e a demanda por experiências culturais autênticas aumenta, a Itália oferece um caso de estudo sobre como museus podem se modernizar sem perder sua identidade histórica.
Museus italianos superam 1 bilhão de visitantes e revelam a força cultural

