Uma nova brutal agressão envolvendo adolescentes voltou a acender o alarme ‘baby gang’ na Itália. Um estudante da prestigiosa Universidade Bocconi, de 22 anos, foi brutalmente agredido, roubado e esfaqueado em plena zona da movida de Milão por um grupo de jovens. Três menores de 17 anos e dois rapazes de 18 foram presos. A vítima, atacada após tentar recuperar 50 euros levados pelo grupo, sofreu lesões permanentes na perna e ficará com sequelas motoras.
O caso soma-se a uma longa série de episódios semelhantes que, nas últimas semanas, vêm sacudindo o país e intensificando o debate sobre violência juvenil. Nos últimos meses, a Itália tem assistido a uma sequência quase diária de episódios de violência envolvendo adolescentes.
Um estudante de 15 anos esfaqueado no pátio de uma escola em Forlì, uma menina de 15 anos violentada no banheiro do colégio em Roma, três jovens meninas atacadas em uma emboscada punitiva após as aulas em Padova, um adolescente espancado por uma baby gang ao defender um colega vítima de bullying em Tivoli, outro ferido a golpes de facão em Bologna.
A lista cresce semana após semana e mostra um país que observa, atônito, a escalada de agressões, humilhações e ataques organizados dentro e fora das escolas.
Os episódios não são isolados. Formam um mosaico inquietante que alimenta o debate nacional sobre a delinquência juvenil e sobre o papel das chamadas baby gang, um termo que divide especialistas, forças de segurança e educadores. A percepção pública confirma a preocupação.
Segundo o instituto Eurispes, mais da metade dos italianos acredita que violência adolescente e vandalismo estão aumentando na própria cidade. A criminalidade juvenil é o fenômeno percebido como mais crescente no país e aparece como uma ameaça transversal, tanto em grandes centros como em pequenas cidades.
Foi nesse clima de alerta que ganhou destaque, recentemente, a megaoperação realizada em Ravenna. A Polícia de Estado identificou mais de duzentos jovens, dos quais muitos menores de idade, e efetuou prisões ligadas a furtos, agressões e tráfico de drogas.
A operação faz parte de uma estratégia nacional para conter microcriminalidade e comportamento violento entre adolescentes e segue um padrão que se repete em várias regiões italianas. No total, em nível nacional, mais de sessenta mil pessoas foram controladas, dez mil menores, com centenas de prisões e apreensões de armas, facas, drogas e objetos usados em agressões.
O fenômeno, no entanto, vai além das operações policiais e tem raízes mais profundas. Segundo o relatório Transcrime, muitos dos grupos juvenis têm entre cinco e dez membros e são compostos principalmente por rapazes de 15 a 17 anos. Em alguns casos, são episódios de violência ocasional. Em outros, são grupos mais estáveis que operam por anos e mantêm sempre a mesma composição.
Para muitos especialistas, como criminólogos da Universidade Católica de Milão, o termo baby gang é inadequado porque mistura realidades distintas, desde simples comportamentos agressivos até formas estruturadas de delinquência.
A violência também está intimamente ligada ao universo digital. Muitos grupos usam redes sociais para exibir agressões e buscar notoriedade. Os especialistas alertam que alguns episódios são cometidos apenas para serem filmados e monetizados. Ao mesmo tempo, existe uma ligação clara com o ambiente escolar e familiar. A falta de figuras de referência, a desmotivação escolar e o aumento de distúrbios emocionais entre adolescentes criam um terreno fértil para comportamentos violentos.
Um estudo recente realizado em escolas de Nápoles mostrou que um em cada três estudantes afirma já ter feito parte de uma gangue juvenil ou desejar fazê-lo. Entre as motivações aparecem o medo da exclusão, a vontade de pertencimento e a busca por proteção.
A questão do bullying, que historicamente acompanha a vida escolar italiana, também se entrelaça com o fenômeno das baby gang.
Muitos dos ataques recentes surgem de brigas iniciadas na escola e transformadas em agressões coletivas. Os especialistas pedem mais atenção aos sinais de isolamento e sofrimento emocional, além de políticas eficazes de prevenção. Psicólogos que trabalham nas periferias italianas sublinham que muitos adolescentes vivem um forte sentimento de solidão e buscam reconhecimento justamente nos grupos violentos.
Para quem trabalha no combate ao fenômeno, a repressão policial é apenas uma parte da resposta. Escolas, famílias, comunidades e serviços sociais precisam agir de forma integrada. Investir em prevenção, combater a evasão escolar e criar espaços seguros de convivência são prioridades urgentes segundo criminólogos e educadores.
O debate sobre o uso do termo baby gang também divide o país. Forças de segurança e parte da opinião pública consideram útil manter a definição para identificar o fenômeno social. Já psicólogos, criminólogos e educadores defendem que o termo estigmatiza jovens e mistura comportamentos muito diferentes, reduzindo a eficácia das políticas de intervenção.
Enquanto as instituições discutem sobre definições e estratégias, a realidade continua a impor números e episódios cada vez mais preocupantes. A Itália vive um momento de forte sensibilidade em relação ao tema, com casos em escolas quase todos os dias e uma opinião pública que exige respostas rápidas.
O desafio agora é transformar a preocupação coletiva em políticas sólidas e duradouras que consigam proteger os jovens e restaurar segurança e confiança no ambiente escolar e urbano.
Mais uma brutal agressão envolvendo ‘baby gang’. Violência juvenil assusta o país e reacende o debate

