A explosão da conectividade global está redesenhando o mapa econômico e energético do planeta. A corrida por inteligência artificial, serviços em nuvem e Internet das Coisas elevou os data centers à condição de infraestruturas críticas e, ao mesmo tempo, grandes desafiadores da sustentabilidade.
Um relatório apresentado no Fórum de Cernobbio pela Teha Group em parceria com a A2A mostra que a Itália pode transformar os data centers de vilões energéticos em alicerces de crescimento verde. Segundo o estudo, o setor tem potencial de contribuir com 6% a 15% da expansão anual do Pib nacional, gerar até 150 mil empregos diretos e indiretos e impulsionar uma economia de dados que já movimenta 60,6 bilhões de euros (2,8% do PIB), com projeção de superar os 200 bilhões até 2030.
Hoje, há mais de 10.300 data centers em 168 países, com os Estados Unidos liderando (5.400) e a União Europeia somando 2.200. A Itália aparece em 13º lugar, com 168 instalações e 513 megawatts de potência instalada, concentradas sobretudo em Milão e Lombardia, que sozinhas representam quase metade da capacidade nacional.
Mas a expansão traz dilemas. Até 2035, os data centers podem consumir 4% de toda a eletricidade global. Só na Itália, a demanda pode subir dos atuais 1,9% para até 13% do consumo nacional. “Essas estruturas impactam fortemente a rede elétrica, mas com renováveis e novas usinas de ciclo combinado, temos condições de sustentar esse desenvolvimento”, afirmou Renato Mazzoncini, Ceo da A2A.
A grande virada está em integrar tecnologia e circularidade. O calor desperdiçado pelos servidores, por exemplo, poderia aquecer mais de 800 mil lares italianos, como já acontece em Brescia e em breve em Milão.
Para destravar esse potencial, serão necessários 23 a 69 bilhões de euros em investimentos, dependendo do ritmo de expansão. Em contrapartida, além do impacto no Pib e na criação de empregos, os ganhos ambientais podem ser significativos: a aplicação integrada de soluções, como reaproveitamento de calor, uso de áreas degradadas, contratos de energia renovável (Ppa) e reciclagem de resíduos eletrônicos, evitaria 5,7 milhões de toneladas de CO₂ por ano, equivalente às emissões de 1,7 milhão de pessoas.
“Os data centers estão se tornando colunas da sociedade digital. Se guiados por uma visão clara, podem transformar uma necessidade tecnológica em oportunidade econômica, social e ambiental”, afirmou Roberto Tasca, presidente da A2A.
O paralelo com o Brasil: energia limpa como vantagem competitiva.
No Brasil, a realidade dialoga diretamente com a tendência europeia. A demanda por infraestrutura digital cresce em ritmo acelerado, puxada por IA, streaming e e-commerce. Mas aqui há um diferencial estratégico: a matriz energética é uma das mais limpas do mundo, com mais de 80% baseada em fontes renováveis.
Esse fator coloca o país em posição privilegiada para se tornar um hub latino-americano de data centers sustentáveis. Nos últimos anos, gigantes globais como Amazon, Google e Microsoft ampliaram investimentos em solo brasileiro, especialmente em São Paulo, enquanto projetos em estados como Ceará e Rio de Janeiro começam a ganhar tração graças à disponibilidade de energia eólica e solar.
Além disso, a recente expansão da rede de cabos submarinos que conectam o Brasil à Europa e à África fortalece o país como ponto de interconexão estratégica, atraindo novos players internacionais.
Se a Itália aposta em circularidade e inovação para transformar a pressão energética em oportunidade, o Brasil tem nas renováveis abundantes e na posição geográfica estratégica a chance de se consolidar como polo regional de infraestrutura digital.
No fim das contas, data centers não são apenas armazéns de dados. São motores que movem economias, cidades e sociedades. Itália e Brasil, cada um à sua maneira, mostram que o futuro digital pode e deve caminhar lado a lado com a sustentabilidade.