A Itália vive uma transformação profunda no seu tecido urbano e comercial. Nos últimos 12 anos, o país perdeu mais de 140 mil pontos de venda tradicionais, entre lojas físicas e comércios ambulantes. O alerta vem da Confcommercio, que prevê um risco ainda maior para a próxima década: até 2035, podem desaparecer outras 114 mil empresas do varejo, ou seja, mais de 20% das que ainda existem.
O fenômeno não é apenas econômico. É social, urbano e cultural. A digitalização das compras – que começou com livros e brinquedos e agora domina setores como moda e eletrônicos – mudou radicalmente o comportamento dos consumidores. As cidades italianas estão se reconfigurando, e os centros históricos, antes cheios de comércio de proximidade, hoje acumulam mais de 105 mil lojas vazias, um quarto delas fechadas há mais de um ano.
Enquanto o varejo tradicional encolhe, outros setores explodem. A restauração cresceu 17% desde 2012, impulsionada pelo turismo. Os bares, porém, perderam quase 20% das unidades, afetados pelo delivery e pela mudança nos hábitos de consumo. No setor de hospedagem, os hotéis diminuíram 9,5%, mas bed and breakfasts e casas de temporada dispararam 92%. Uma tendência que deve continuar com um novo aumento previsto de mais de 80% até 2035.
O avanço do comércio online também é expressivo: as empresas que atuam exclusivamente pela internet cresceram quase 115% no mesmo período. Já setores como combustíveis (-42,2%), artigos culturais (-34,5%) e moda (-25%) sofreram quedas severas.
Segundo a Confcommercio, a “desertificação comercial” ameaça a segurança, a vida comunitária e a atratividade das cidades: cada loja fechada significa menos movimento, menos serviços e menos vitalidade urbana. A entidade defende políticas urgentes de regeneração urbana para impedir o surgimento de verdadeiras cidades fantasma.
A Itália se vê, portanto, diante de um dilema que também ecoa no Brasil: como preservar o comércio de proximidade e a vida nos centros urbanos em um mundo cada vez mais digitalizado? Lojas físicas continuarão a desaparecer ou existe um caminho para reinventá-las?
Cidades italianas perdem 140 mil lojas e bares (com avanço de on-line e app de entregas), risco de “desertos comerciais”

