Quando se fala dos Campi Flegrei, muitas pessoas pensam em um vulcão comum. Na verdade, trata-se de uma vasta caldeira ativa que engloba Pozzuoli, parte de Nápoles e outras cidades vizinhas, onde vivem cerca de 500 mil pessoas. É uma das áreas vulcânicas mais densamente povoadas do mundo e justamente por isso, uma das mais sensíveis. Nos últimos anos, a terra voltou a se mover: o solo está subindo, os terremotos se tornam mais frequentes e as fumarolas mostram mudanças na composição dos gases. Esses sinais não indicam uma erupção iminente, mas revelam claramente que o sistema está mudando de estado.
Os Campi Flegrei não têm a forma clássica do Vesúvio. Eles funcionam como um grande “vulcão difuso”, formado por dezenas de crateras e zonas geotérmicas que se estendem inclusive sob o mar. Suas erupções passadas deixaram marcas profundas na história do Mediterrâneo. Cerca de 40 mil anos atrás, uma delas alterou até mesmo o clima europeu. A última atividade significativa aconteceu em 1538, com o surgimento do Monte Nuovo um episódio que mostra como esse território pode se transformar rapidamente.
O fenômeno mais evidente hoje é o bradissismo, um lento levantamento do solo que há anos afeta principalmente a região de Pozzuoli. Os tremores, cada vez mais frequentes e superficiais, são a manifestação mais clara desse movimento interno. Cientistas explicam que a pressão subterrânea está aumentando, provavelmente devido ao acúmulo de gases ou à intrusão de magma em pouca profundidade. Isso não significa que a caldeira esteja prestes a entrar em erupção, mas indica que o sistema está ativo e, portanto, precisa de monitoramento constante.
Uma possível erupção, mesmo moderada, teria consequências imediatas não só para a área flegreana, mas também para a mobilidade e a infraestrutura nacional. A proximidade com o aeroporto de Nápoles um dos mais importantes da Itália, torna crítica até mesmo uma pequena emissão de cinzas, que poderia afetar rotas aéreas em nível europeu. A história recente dos vulcões na Islândia mostrou como uma nuvem de cinzas é capaz de paralisar o tráfego aéreo global, e os Campi Flegrei, posicionados no centro do Mediterrâneo, poderiam gerar impactos ainda mais diretos.
Ao mesmo tempo, a região é um patrimônio científico de valor mundial. Locais como Solfatara, Pisciarelli e o Golfo de Pozzuoli funcionam como verdadeiros laboratórios naturais, permitindo que especialistas estudem os mecanismos profundos que controlam supervulcões e forneçam dados essenciais para melhorar a prevenção no mundo inteiro. Por isso, os Campi Flegrei são monitorados 24 horas por dia por instituições italianas e internacionais, com sensores, satélites e análises químicas que acompanham cada pequena variação do sistema.
Entender os Campi Flegrei significa reconhecer a complexidade de um território único: frágil por sua força natural, vulnerável pela presença de centenas de milhares de pessoas, mas extraordinário pela contribuição que oferece à ciência. Informar e divulgar com clareza não serve para alimentar medo, mas para promover consciência. Porque esse gigante subterrâneo não precisa ser temido, precisa ser compreendido.

