ter. set 16th, 2025

Brasil mira nos minerais estratégicos para liderar a transição energética.

Uma nova corrida do ouro, mas desta vez verde. O Brasil, conhecido mundialmente pelo ferro e pelo café, agora reposiciona sua imagem como um dos protagonistas na transição energética global. Um documento recente do Itamaraty (citado numa matéria do ministério das relações exteriores da Itália) deixa claro: o país quer ser não apenas fornecedor de matérias-primas, mas referência em confiabilidade, sustentabilidade e inovação no setor de minerais estratégicos.

A agenda é ambiciosa. De um lado, há a promessa de agilizar licenças ambientais e oferecer incentivos a investidores; de outro, garantir práticas mais sustentáveis em toda a cadeia produtiva. O plano divide os minerais em três blocos: os de forte dependência externa (como potássio e fósforo, fundamentais para fertilizantes), os necessários a tecnologias de ponta (litio, cobalto, níquel e terras raras) e os que já rendem superávit comercial (ferro, cobre, ouro).

Hoje, apenas 35% do território nacional foi explorado geologicamente. Para mudar esse quadro, o governo lançou um plano decenal de mapeamento e criou um fundo público-privado de 1 bilhão de reais (200 milhões de dólares) voltado a pequenas e médias empresas. Paralelamente, Finep e Bndes abriram uma linha de crédito de 5,1 bilhões de reais (quase 1 bilhão de dólares) para projetos ligados a baterias, energia solar e magnetos.

O recado é claro: o Brasil não quer mais vender barato e comprar caro. Atualmente, quase todas as terras raras vão para a China para processamento, mas novas parcerias, inclusive com a União Europeia, podem transformar o jogo. O caso mais emblemático é a mina de Serra Verde (Goiás), que desde 2023 produz terras raras de alto valor agregado a partir de argilas iônicas, com impacto ambiental reduzido. Se os planos avançarem, o país poderá suprir até 10% da demanda mundial até 2030.

O boom recente é incontestável: no primeiro trimestre de 2025, as exportações de cobre para a China saltaram 180%, enquanto manganês e ferroníquel cresceram mais de 300%. Mas essa bonança esconde uma vulnerabilidade: a dependência excessiva de Pequim. Daí a urgência em fortalecer a capacidade nacional de refino e industrialização.

Outro ponto crítico são os fertilizantes. O Brasil importa quase 40 milhões de toneladas por ano, principalmente da Rússia, apesar de ser um dos maiores consumidores mundiais. O mesmo vale para o urânio, cujo processamento ainda depende em parte de Moscou.

A aposta brasileira abre espaço para novas alianças internacionais, e aqui entra o interesse europeu, em particular da Itália. O país, altamente dependente de importações de energia e minerais, pode se beneficiar de acordos diretos com o Brasil para diversificar suas fontes de abastecimento.

Empresas italianas do setor automotivo e de energias renováveis já têm presença no Brasil e poderiam expandir sua atuação em cadeias críticas como baterias, magnetos e reciclagem de metais raros. Além disso, universidades e centros de pesquisa italianos, com forte tradição em engenharia de materiais, têm a chance de colaborar em projetos de inovação tecnológica e transferência de know-how.

Para Roma, a relação com Brasília no campo mineral pode ser estratégica não apenas para garantir segurança energética, mas também para reforçar a presença italiana em um país que está se consolidando como pilar do Sul Global nas negociações climáticas e industriais.

Segundo a Deloitte, os minerais estratégicos podem acrescentar 32 bilhões de reais (6 bilhões de dólares) ao Pib brasileiro até 2030 e até 257 bilhões de reais (48 bilhões de dólares) em 2050, se houver maior valor agregado interno. Iniciativas como o MagBras, que desenvolve produção de magnetos à base de neodímio e ferro, são ensaios de um futuro em que o Brasil não apenas extrai, mas transforma.

O desafio é monumental: equilibrar desenvolvimento econômico, preservação ambiental e autonomia industrial. Mas, se bem-sucedido, o país poderá não apenas redesenhar sua economia, como também reposicionar sua diplomacia em um cenário global onde minerais são tão estratégicos quanto petróleo já foi um dia.

E a Itália, junto com a Europa, tem todo o interesse em estar por perto quando essa virada se consolidar.

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