qui. dez 18th, 2025

Aposentadoria sem fronteiras: por que tantos italianos escolhem viver fora (e onde)



Durante anos, a ideia de se aposentar no exterior esteve associada a uma palavra-chave: vantagem. Menos impostos, custo de vida mais baixo, clima melhor e, muitas vezes, um ritmo de vida mais tranquilo do que o encontrado nas grandes cidades italianas. Hoje, porém, esse fenômeno muda de forma, destinos e intensidade. Os números mais recentes mostram um quadro mais complexo e interessante, sobretudo para quem nunca ouviu falar dessa “migração da aposentadoria”.

Ao contrário do que se poderia imaginar, o número de aposentados italianos que se mudam para fora do país está em queda. Entre 2018 e 2024, as saídas diminuíram cerca de 23,8%. Ainda assim, milhares de pessoas continuam escolhendo viver fora da Itália após o fim da vida profissional, movidas principalmente por razões fiscais, econômicas e de qualidade de vida.

Esse movimento ganhou força a partir dos anos 2000, quando vários países passaram a oferecer regimes tributários extremamente vantajosos para aposentados estrangeiros. O objetivo era atrair renda estável, consumo e novos residentes. A Itália, com uma população envelhecida e pensões relativamente regulares, tornou-se um dos principais “mercados” desse tipo de migração.

Hoje, a Espanha é o destino número um dos aposentados italianos. Só em 2023, 536 novos pensionistas se mudaram para lá, elevando o total para mais de 8.400 residentes italianos aposentados. O sucesso espanhol se explica por impostos mais baixos sobre rendas externas, isenções fiscais ligadas à idade, deduções médicas e um custo de vida acessível fora dos grandes centros urbanos. Além disso, o clima, a língua próxima do italiano e um sistema de saúde eficiente tornam a adaptação mais fácil.

O cenário é bem diferente em Portugal. Durante mais de uma década, o país foi o grande “paraíso fiscal” europeu para aposentados estrangeiros, graças ao regime que isentava ou reduzia drasticamente os impostos sobre pensões. A partir de 2024, porém, as vantagens deixaram de existir para novos residentes. O resultado foi imediato: o fluxo de aposentados caiu mais de 80% em relação aos anos anteriores. Ainda assim, Portugal continua sendo o país onde o INPS paga o maior valor total de pensões no exterior, graças aos aposentados que chegaram antes do fim dos benefícios e recebem valores médios mais altos.

Fora da União Europeia, a Tunísia — especialmente a cidade de Hammamet — segue como uma escolha muito popular. Entre 2019 e 2023, cerca de mil aposentados italianos se mudaram para o país. O grande atrativo é fiscal: até 80% da renda pode ficar isenta de impostos, além de alíquotas moderadas para valores mais altos. Não por acaso, a maioria dos italianos aposentados na região são ex-funcionários públicos.

Romênia e Albânia também ganham espaço. A Romênia oferece uma taxa fixa de 10% sobre rendas externas, enquanto a Albânia, desde 2021, isenta totalmente as pensões de impostos. Para muitos aposentados, especialmente aqueles com rendas médias, isso significa manter um padrão de vida confortável gastando menos.

Um dado pouco conhecido é que quase 44% dos aposentados que deixam a Itália não são italianos de nascimento. São imigrantes que chegaram ao país a partir dos anos 1980, trabalharam, contribuíram para o sistema previdenciário italiano e, ao se aposentar, decidiram voltar ao país de origem. Esse movimento cresceu mais de 77% nos últimos sete anos.

A maioria retorna para países europeus do Leste, como Romênia, Ucrânia e Bulgária, mas há fluxos significativos também para a Ásia, África e América do Sul. Em muitos casos, trata-se de mulheres, que representam mais de 76% desse grupo, refletindo histórias de migração ligadas ao trabalho doméstico e ao cuidado de idosos.

A “fuga fiscal” dos aposentados italianos já não cresce como antes, mas continua a existir. O que muda são os destinos e as motivações. Menos benefícios automáticos, mais escolhas ponderadas entre impostos, custo de vida, serviços de saúde e laços familiares.

Para quem observa de fora — inclusive no Brasil — esse fenômeno revela como a aposentadoria, hoje, pode ser pensada de forma internacional. Não é apenas o fim de uma carreira, mas o início de uma nova fase, em que fronteiras, clima, economia e qualidade de vida entram na equação tanto quanto o valor da pensão no fim do mês.

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