A 23ª edição do AgrieTour, em Arezzo, abre em um momento simbólico: os 40 anos da lei que regulamentou o agriturismo na Itália. Quatro décadas depois, o setor não apenas se consolidou como pilar do turismo, mas também como instrumento fundamental para manter vivas as áreas rurais e evitar o abandono dos territórios internos.
Segundo o relatório Raizes e futuro do Agriturismo, elaborado por Ismea/Rete Pac, o país conta hoje com cerca de 65 mil empresas agrícolas envolvidas no agriturismo, e a produção do setor chegou a quase 2 bilhões de euros em 2024, alta de 63% desde 2015. A capacidade de acolhimento inclui mais de 303 mil camas e 535 mil lugares à mesa, um universo que gerou 17 milhões de pernoites e 4,7 milhões de chegadas, 62% vindas do exterior.
A procura internacional cresce rápido. A Alemanha lidera, seguida por Países Baixos, Estados Unidos e um salto expressivo da China (+82%). Para 2025, estima-se que os turistas estrangeiros alcancem 5,1 milhões, ilustração do apelo de um modelo baseado em tranquilidade, gastronomia, paisagens e sustentabilidade. A Toscana continua líder absoluta, com 5.797 estruturas e 1,3 milhão de chegadas anuais.
Mas o setor enfrenta desafios relevantes. Há escassez de mão de obra qualificada e aumento dos custos de gestão, fatores que podem limitar a competitividade de um ramo em expansão acelerada.
A apresentação paralela da pesquisa Isnart confirma o papel estratégico do agriturismo. Nas 1.904 cidades das Áreas Internas italianas, onde vivem 4,5 milhões de pessoas, o esvaziamento populacional é severo: regiões como Sila e Presila perderam 33% dos habitantes em 20 anos. Nesses territórios, o agriturismo e a agricultura multifuncional funcionam como verdadeiros pontos de resistência social e econômica.
As áreas rurais possuem potencial turístico muito maior que sua performance atual. Exemplos como a Valdichiana Senese, na Toscana, mostram como qualidade ambiental, patrimônio cultural e hospitalidade podem gerar fluxos acima da média nacional, indicando margens amplas para crescimento.
O panorama que emerge do AgrieTour é claro: o agriturismo italiano não é apenas uma alternativa de hospedagem charmosa. É uma política concreta de desenvolvimento territorial, capaz de gerar renda, proteger a paisagem, frear o despovoamento e oferecer ao visitante experiências autênticas e sustentáveis.
Para um Brasil que também enfrenta desafios de esvaziamento rural e valorização das pequenas comunidades, o modelo italiano pode ser uma inspiração valiosa.
Agriturismo cresce na Itália e se confirma como guardião dos territórios rurais

